quarta-feira, 14 de julho de 2010

Caçador: um breve reflexão sobre suas origens.

Encontrei a folha que ilustra esta postagem solta, entre as páginas de um livro que pertenceu a Wilhelm Herwig, avô materno de Anke Cristina, minha mulher. Curiosamente, ele a guardou por conta do conteúdo do verso da folha, não da frente em questão. Quase 20 anos depois de sua morte, sem o saber, contribui com o nosso blog. O texto, cuja fonte lamentavelmente não nos foi possível recuperar, traz informações sobre o município de Caçador, que na época de sua publicação totalizava 40900 habitantes. Não é fornecida a data à qual a estatística se refere, mas, segundo dados obtidos do IBGE*, em 1980 Caçador contava aproximadamente 39300 habitantes. Este dado nos permite situar a estatística nos primeiros anos da década de 1980, entre 25 e 30 anos atrás. Segundo o texto, com o qual concorda o histórico do município do site do IBGE**, ao ser criado o Município de Caçador, seu território foi desmembrado dos municípios de Porto União, Curitibanos, Campos Novos e Cruzeiro, tendo este último tido, posteriormente, seu nome alterado para Joaçaba. O reconhecido historiador Oswaldo Rodrigues Cabral (1903-1978), em sua obra História de Santa Catarina***, cita apenas o desmembramento de Campos Novos (1987, p. 371), omitindo qualquer referência às demais localidades. Não tivemos acesso à lei que criou o município, mas parece merecer crédito o trabalho de Roso e Seidel****, segundo o qual o decreto estadual que criou o município de Caçador diz: "Fica criado o município de Caçador e o território constituído dos distritos de: Santelmo, Taquara Verde e parte de São João dos Pobres, desmembrados de Porto União; Rio Caçador, de Curitibanos; Rio das Antas, de Campos Novos e São Bento, de Cruzeiro". A omissão de Cabral pode estar relacionada às origens do território que hoje constitui o município de Caçador, quando este passou à jurisdição catarinense em 1917, após a assinatura do acordo da questão de limites com o vizinho Paraná. Na ocasião a região era dividida, segundo o autor, pelos municípios de Campos Novos, como parte do distrito de Rio das Antas, e Porto União, à direita do Rio do Peixe (1987, p. 330). Ainda assim, Cabral não mencionou Porto União em sua obra. Eventualmente poderia lançar luz sobre o tema uma consulta minuciosa à questão dos limites territoriais das localidades mencionadas, anteriormente à criação do novo município, bem como a parcela com a qual cada município contribuiu para a criação do município de Caçador. Teria Campos Novos contribuído com uma parcela territorial maior do que os demais municípios? Se assim foi, é possível que Cabral tenha mencionado apenas o município que mais cedeu território à criação do Município de Caçador. Contudo, está é apenas uma hipótese e deixaremos esta questão para quem se dispuser a investigar o assunto com maior profundidade. Merece atenção, contudo, uma breve reflexão sobre as datas mencionadas no texto com referência à criação e instalação do município. Lê-se: "Era, então, no dia 25 de março de 1934 solenemente instalada a nova comuna, criada pelo decreto 597 de 26 de maio de 1934...". Estamos, obviamente, diante de um equívoco, pois a instalação de um minicípio se dá após a lei ou decreto que o cria, não antes. O município de Caçador teve, de fato, sua solenidade de instalação em 25 de março de 1934, mas sua criação se deu, não como o cita o texto, mas pelo Decreto/Lei No. 508 de 22 de fevereiro de 1934 (1987, p. 371). Como vemos, o pesquisador deve estar atento às fontes que consulta e, sempre que possível, confirmar as informações em outras fontes.

Fontes:
* www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=200&z=t&o=1&i=P
** www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=420300#
*** CABRAL, O. R. História de Santa Catarina. Florianópolis: Lunardelli, 1987.
**** www.cacador.net/portal/Paginas.aspx?cdPagina=16

terça-feira, 13 de julho de 2010

Joaçaba: "Você tem um Pozza? Que coincidência!"

Eles não costumam ser corriqueiros, ao menos para a maioria das pessoas, mas existem acontecimentos que nos deixam perplexos, geram sensações de grande prazer e euforia, nos deixam maravilhados. Refiro-me àquelas situações, raras e quase sempre inesquecíveis, que costumamos rotular como 'coincidências'. Recordo da indescritível sensação de supresa e prazer que me sobreveio ao descobrir, numa loja de móveis usados e antiguidades localizada à Rodovia Osvaldo Reis, que liga Itajaí a Balneário Camboriú, as lembranças da Confirmação* de meu avô e de minha avó paternos, datadas, respectivamente, de 1896 e 1903. Lá estavam, emolduradas, enfeitando as paredes da loja, juntamente com outros documentos antigos. Pode não parecer grande coisa à primeira vista, mas é. Afinal de contas, moro em Blumenau, mas meus avós residiram em Testo Alto, bairro localizado nos confins do município de Pomerode, e faleceram, ele em 1947, e ela em 1966. Não conheci meu avô e tinha apenas 04 anos de idade quando minha avó, a quem tinha visto pouquíssimas vezes, faleceu. O que faziam lá, mais de 100 km distantes de sua origem, documentos de foro tão íntimo, considerando que ninguém da família vive naquela região? E o que me levou a olhar para um daqueles quadros numa ocasião em que visitei a loja à procura de caixas de charuto antigas, que coleciono? Confesso que chamou minha atenção o nome Ottilie, da minha avó, mas nada me dizia o sobrenome Wachholz naquele quadro, e deixei o assunto de lado. Pelo lugar em que estava, não vi por que considerar a possibilidade de poder se tratar de algo relacionado à minha família. Retornei à loja alguns anos depois e, por algum motivo, fui novamente "atraído" para aquele quadro. Cético mas curioso, decidi anotar a data de nascimento da tal Ottilie Wachholz. De volta a Blumenau, conversei sobre o assunto com minha mãe. O resultado foi uma grande ansiedade para retornar à loja. Poucos meses depois lá estava eu, frente a frente com o quadro novamente, considerando seriamente a hipótese de ter pertencido à minha avó e disposto a retorná-lo ao seio da família. O mais incrível, contudo, ainda estava por vir. Algo me fez olhar para o lado, onde vi outro quadro, menos atraente, um tanto apagado e manchado pela ação da água, mas cujo nome, mesmo um pouco borrado, podia ser facilmente identificado: Hermann Lickfeld! 'Era o meu avô' e ele estava ali, 'ao lado da minha avó', todos esses anos, como que esperando que alguém 'os levasse para casa'. Foram necessárias várias idas à loja ao longo de alguns anos, sempre com outro objetivo, até que, finalmente, eu pudesse me dar conta disso. Mal posso descrever o que senti naquele dia. Foi como achar um tesouro. "Que grande coincidência!", alguém diria. Acredito em coincidências, mas, neste caso, confesso que prefiro crer, como diz um autor que me é desconhecido, que "coincidência é a forma que Deus tem de realizar anonimamente um milagre". Do ponto de vista lógico, qual a probabilidade daqueles quadros, originários do interior de Pomerode, estarem numa loja de móveis usados de Itajaí?  Sem dúvida, muito pequena. E qual a probabilidade de eu, sem procurá-los e nem ao menos saber de sua existência, encontrá-los lá? Convenhamos, é como se algo conspirasse para que isso acontecesse. O leitor se perguntará, e com razão, que relação há entre este relato e o acordeão acima. Fabiola Pozza Korndörfer, neta dos fundadores da fábrica de acordeões, que colaborou com minha pesquisa, lamentando o fato de nenhum acordeão Pozza ter ficado com a família, recentemente também vivenciou uma 'grande coincidência'. Conversando com seu novo colega de trabalho, Florindo Rio Neto, bioquímico como ela, ficou surpresa ao saber que este nascera em Joaçaba. Lá pelas tantas, quem ficou surpreso foi ele, ao saber que ela pertencia à família Pozza. O motivo? Justamente o acordeão da foto, que ele ganhou de presente do seu pai, Geraldo do Rio, por volta de 1973, quando tinha cerca de 08 anos de idade. Podemos especular que neste momento foram ditas  palavras como as que dão título a esta postagem. Seu pai comprou o instrumento novo, em Joaçaba, talvez na  própria fábrica ou em alguma loja, numa época em que a família residia em Videira. No entanto, mesmo com direito a professora particular de acordeão, Florindo sempre acabava fugindo das aulas para jogar futebol no 'campinho da rodoviária'. Algum tempo depois seu pai, vendo que o garoto não tinha dom para a coisa, deixou de insistir que ele aprendesse a tocar o instrumento e guardou-o em seu estojo original, onde ficaria por mais de três décadas, até fins de 2009. A família mudou para Cascavel e para lá também foi o acordeão. Passado algum tempo a mãe de Florindo faleceu e seu pai se casou novamente. No ano de 2006 viria a falecer também o seu pai. Aproximava-se o Natal de 2009. Na noite anterior à chegada de sua madrasta para passar o Natal com sua família, Florindo sonhou que viu a caixa do antigo acordeão embrulhada num saco, deixando visível apenas a alça. Ao chegar, ela lhe disse: "Tenho uma surpresa para você!". A resposta veio certeira: "Já sei o que é: o acordeão!" E assim foi.
Lá estava ele, como no sonho, e ainda em estado de novo, com o fole perfeito, agora para alegria de sua filha, Ana Clara. Ela se encantou pelo instrumento e, assim como seu pai, ganhou-o aos 08 anos de idade. Ana Clara já teve aulas de piano, mas avisou que agora quer ser gaiteira e já arrisca algumas melodias que aprendeu nas aulas de piano. Fabiola, por sua vez, teve a feliz oportunidade de conhecer a história de mais um Pozza fabricado por seus avós. E mais: como resultado das nossas postagens sobre o tema, outros proprietários de acordeões Pozza já nos procuraram, perguntando por peças de reposição e colocando seu instrumento à venda. Talvez Fabiola esteja, finalmente, perto de realizar o sonho de ser proprietária de um acordeão Pozza. É muita coincidência! Será?

* A Primeira Comunhão no contexto das igrejas evangélicas luteranas.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Xanxerê: O "Coração de Xanxerê" há quase 50 anos


"Mecê não pense que aqui tudo é mato", adverte a frase no verso da fotografia acima, garimpada num site de colecionismo. Datando de novembro de 1961, mostra o "Coração de Xanxerê", a Rua Coronel Passos Maia, no momento em que esta passava por importante processo de urbanização. Hoje a paisagem é outra. O calçamento deu lugar à pavimentação asfáltica e muitas das construções foram demolidas para dar lugar a outras. Apesar disso, hoje há mais "mato" do que naqueles tempos, com a arborização do passeio do lado esquerdo da rua. Acompanhar a evolução da paisagem urbana contribui para a preservação da memória das cidades e é este o propósito desta postagem. Iniciamos com o lado esquerdo da imagem, que em primeiro plano mostra uma construção de madeira com a inscrição "Casa Herrmann". Consta ter pertencido a um empreendimento de beneficiamento de madeira ou moveleiro. Ao lado desta aparece uma árvore, aparentemente plantada em terreno ainda baldio. Estes espaços atualmente são ocupados pelas novas edificações que abrigam a "Farmácia São Rafael" (No. 802) e a loja "Papelândia Brinquedos e Confecções" (No. 788). Imediatamente antes destas, no mesmo prédio da "Farmácia São Rafael", existe ainda a loja "Maxi Bazar de Utilidades" (No. 810), junto à esquina com a Rua Avenida Brasil", omitida pela fotografia. Em seguida aparece um pequeno edifício térreo em cuja tabuleta se lê "Fotógrafo - Musskopf". Trata-se do negócio do autor da fotografia, Alfredo G. Musskopf. Neste lugar hoje existe o prédio da loja "Essência Cosméticos e Salão de Beleza" (No. 780). Mais adiante aparece a edificação da antiga "Casa Paulista", demolida para dar lugar ao edifício onde atualmente encontramos a loja do ramo de decoração "Kazo A Kazo" (No. 768). A próxima construção, com uma sacada no piso superior, resistiu ao tempo e abriga a "Farmácia Santo Antônio" (No. 759) e a loja "Akakia Cosméticos" (No. 756). Entre esta e a próxima construção, que igualmente ainda existe, há um espaço aparentemente vazio, onde existiu, com recuo em relação à calçada, a filial de uma loja de tecidos de São Paulo, a "Casas Eduardo". Atualmente existe ali o prédio no qual estão localizadas as empresas "Panda Confecções" (No. 740) e "Cyber Space - Internet" (No. 730). Em seguida aparece o edificío mais alto, também ainda existente, no qual encontramos a loja "Bimbo Fios e Artesanato" (No. 726). Logo depois pode-se identificar uma pequana placa oval com a inscrição "Esso", que remete ao posto de gasolina que existiu ali, ocupando a esquina das ruas Coronel Passos Maia e Olavo Bilac. A antiga construção que abrigou o posto também ainda existe. Na parte que dá para a Coronel Passos Maia hoje encontramos a loja "Bazar das Festas" (No. 712), e na que dá para a Olavo Bilac está a sorveteria e lanchonete "Bistrô" (No. 49). Uma pracinha ocupa o lugar na frente do antigo posto, que já pertenceu a um chafariz. O prédio que se vê ao fundo também ainda existe. Conhecido como "Prédio da Volks", abriga a concessionária da Volkswagen "Auto Xanxerê" (No. 56 da Rua José Miranda Ramos). Passemos para o lado direito da rua: a primeira construção, de cor escura, já não existe. Atualmente está ali um novo edifício, que abriga a "Relojoaria e Ótica Confiança" (No. 735). No espaço existente entre esta e a próxima edificação visível estão o "Clube Cultural e Recreativo Xanxerê" e o "Restaurante O Costelão" (No. 713). O próximo prédio, de cor clara, abrigava as "Lojas Renner". Foi demolido para dar lugar ao moderno edifício da família Bortoluzzi no qual estão instalados o "SESC - Serviço Social do Comércio" e o "Cantinho do Sorvete" (No. 691). Na continuação, cruzando a Avenida La Salle, hoje temos diversos estabelecimentos comerciais: "América Móveis", "Wustro e Wustro - Produtos de Limpeza", "Cheia de Charme", "Farmácia Preço Popular", "Anjo Móveis", "Magazine Luiza", etc. A fotografia eterniza o olhar do fotógrafo, permitindo que este compartilhe o que viu com gerações que sequer o conheceram. Contribui, assim, com a preservação da memória do lugar e do momento histórico registrados por seu autor. Preserve e dê voz às imagens do passado da sua família e da sua cidade. Elas têm muito a dizer à atual e às futuras gerações. Agradeço aos moradores de Xanxerê que gentilmente me receberam durante a pesquisa, e de forma especial à Márcia, da Prefeitura Municipal de Xanxerê, que me apoiou "preparando o terreno" para as entrevistas.