quinta-feira, 17 de junho de 2010

Joaçaba: "Descobri um 'Pozza' em Blumenau!"

Há alguns dias, após postar a matéria sobre a antiga fábrica de acordeões Pozza, uma neta dos fundadores da fábrica me fez saber do interesse da família em adquirir um acordeão produzido pela fábrica. Estou tentando ajudar, divulgando o assunto a um grande círculo de amigos e conhecidos, pois posso imaginar os sentimentos envolvidos nisso no contexto da história da família Pozza. Contudo, percebi que esse sentimento pode não dizer respeito somente aos descendentes de quem fabricou, mas também aos de quem adquiriu um acordeão Pozza. Isso que demonstra que um bem produzido pode significar muito mais do que um mero produto exposto numa vitrine. É o caso do acordeão Pozza que descobri em minha cidade na semana passada. Liguei para um conhecido que é professor de acordeão e tem uma loja de venda de instrumentos musicais, inclusive acordeões, tanto novos quanto usados. Perguntei se porventura tinha um Pozza à venda, ao que respondeu negativamente, mas informou que em 2009 teve um aluno que, segundo se recorda, poderia ter um Pozza. Sua lista de ex-alunos revelou um nome: Romualdo Jardini. Um telefonema bastou para confirmar a informação, mas também para revelar que o tal Pozza não está à venda. Pena para a família Pozza (apenas por enquanto, pois havemos de encontrar um Pozza à venda!), mas o proprietário do acordeão, sensível aos anseios da família, gentilmente permitiu que eu fotografasse o instrumento e conhecesse um pouco da sua história.


O instrumento tem grande valor sentimental para Romualdo Jardini. Seus antepassados, assim como os Pozza da antiga fábrica, eram italianos que vieram do Rio Grande do Sul para contribuir com o desenvolvimento do Meio Oeste catarinense. O acordeão foi comprado em 1962 por seu avô, Santo Giardini*, agricultor falecido em 2007, e um dos primeiros moradores da localidade de São José, interior do município de Catanduvas. Era um presente para o seu filho, Vitalino Jardini, pai de Romualdo, que na ocasião completara 18 anos de idade. A vida no interior era muito dura e a música era um elemento que trazia alegria à vida dos agricultores nos finais de semana, nos raros momentos de relaxamento e descontração que estes se permitiam. Quando solteiro, Vitalino tocava acordeão e violão, juntamente com seu irmão Valdir, animando bailes e festas num galpão de chão batido que existiu em São José. Depois de casar e constituir família, em função da dura vida na lavoura e das novas responsabilidades, Vitalino já não podia se dedicar à música como o fazia nos tempos de solteiro e aos poucos foi deixando-a de lado. A certa altura, presenteou o acordeão ao seu filho Romualdo, que também conheceu as dificuldades da vida no interior e se mudou para o Vale do Itajaí em busca de uma oportunidade de crescimento profissional. Entretanto, não esquece suas raízes e procura seguir os passos do pai, inspirados por seu avô, e também aprender a tocar acordeão. Compreende-se, portanto, o sentimento que Romualdo acalenta em relação ao seu Pozza, não querendo se desfazer dele. Trata-se de algo intangível, espiritual, e ao mesmo tempo muito forte e real na vida da parte envolvida. Diz Romualdo: "Essa gaita tem história. Imagina quantas pessoas não tocaram e aprenderam a tocar nela nestes anos todos?" Não temos a resposta a essa pergunta, Romualdo, mas esperamos que você possa seguir honrando a história deste Pozza e que, algum dia, seus descendentes possam ser os próximos a fazer parte dela.


*Giardini é a grafia original do sobrenome da família. Devido a um erro ocorrido no registro do nascimento de Vitalino, pai de Romualdo, que teve o sobrenome registrado como sendo Jardini ao invés de Giardini, este ramo da família passou a se chamar Jardini.  

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Joaçaba: "Fabrica de Armonicas - de Irmãos Pozza"

Muitos moradores de Joaçaba e região hão de se recordar desta empresa que existiu em Joaçaba por um período de quase 50 anos: a "Fabrica de Armonicas - de Irmãos Pozza". A empresa foi fundada pelos irmãos José João, Atílio Afonso e Cesar Pozza, já falecidos. Eram filhos de Angelo Pozza, ourives de profissão, e imigrante italiano que se fixou na cidade de Nova Prata/RS. No início da década de 1930 a família, a exemplo de muitas outras de descendentes de italianos, alemães, poloneses, e de outras nacionalidades, deixou o Rio Grande do Sul para contribuir com o processo de colonização do meio oeste catarinense. Angelo e seus filhos José João, Atílio Afonso e Cesar, foram os primeiros a vir, tendo sido seguidos pela esposa de Angelo e os demais filhos do casal. Estabelecem-se inicialmente em Capinzal, mas passado pouco tempo, fixaram residência em Joaçaba. José João Pozza, decidido a montar uma fábrica de acordeões, viajou a São Paulo a fim de aprender as técnicas de montagem e afinação dos intrumentos. Surgiu assim, há 80 anos, o empreendimento que, a partir do talento e das mãos hábeis de muitos instrumentistas, certamente contribuiu para alegrar incontáveis bailes, casamentos, festas, reuniões de famílias e amigos, e outros eventos nos quais a alegria da música se fez presente. A fábrica produzia, para comercialização em nível local, regional e estadual, cerca de 360 instrumentos por ano, uma média de 30 unidades mensais, até encerrar suas atividades, em 1978, pouco depois da morte, em 1977, de José João Pozza. Uma breve referência ao empreendimento pode ser encontrada na internet, em sites como http://www.acordeom.com.br/ e http://www.lojamanomonteiro.com.br/, nos quais figura, no contexto da história do acordeão, em listas de fábricas que produziram o instrumento no Brasil. E por falar na internet, foi num site de venda de artigos para colecionadores que encontramos a imagem que ilustra esta postagem: http://www.rsscolecionismo.nom.br/. Trata-se de um catálogo atribuído à década de 1950, que informa que a empresa tinha como endereço a Rua Duque da Caxias s/n. Entretanto, consta que neste endereço funcionava a oficina de conserto e afinação de acordeões, já desativada, dirigida por Pedro Antônio Pozza, filho de José João Pozza. A fábrica estava, de fato, localizada à Rua Floriano Peixoto No. 12, esquina com Frei Edgar, e funcionava no andar térreo do prédio, local que atualmente abriga uma loja de comércio de móveis. O piso superior do edifício, como fora no passado, é destinado a fins residenciais. A música parecia estar no sangue da família Pozza. Lourdes Pozza, irmã dos fundadores da empresa, tocava acordeão e ensinava a arte aos seus alunos no piso superior do prédio onde funcionava a fábrica, local onde também residia. Deixo meus agradecimentos aos descendentes da família Pozza que gentilmente colaboraram com esta postagem. Funiculi, Funiculá!

Fontes:
KORNDÖRFER, Fabíola. Pozza. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por wieland@terra.com.br  em 31 mai. e 07 e 08 jun. 2010.

POZZA, Juliano. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por wieland@terra.com.br em 04 abr. 2010.