Encontrei a folha que ilustra esta postagem solta, entre as páginas de um livro que pertenceu a Wilhelm Herwig, avô materno de Anke Cristina, minha mulher. Curiosamente, ele a guardou por conta do conteúdo do verso da folha, não da frente em questão. Quase 20 anos depois de sua morte, sem o saber, contribui com o nosso blog. O texto, cuja fonte lamentavelmente não nos foi possível recuperar, traz informações sobre o município de Caçador, que na época de sua publicação totalizava 40900 habitantes. Não é fornecida a data à qual a estatística se refere, mas, segundo dados obtidos do IBGE*, em 1980 Caçador contava aproximadamente 39300 habitantes. Este dado nos permite situar a estatística nos primeiros anos da década de 1980, entre 25 e 30 anos atrás. Segundo o texto, com o qual concorda o histórico do município do site do IBGE**, ao ser criado o Município de Caçador, seu território foi desmembrado dos municípios de Porto União, Curitibanos, Campos Novos e Cruzeiro, tendo este último tido, posteriormente, seu nome alterado para Joaçaba. O reconhecido historiador Oswaldo Rodrigues Cabral (1903-1978), em sua obra História de Santa Catarina***, cita apenas o desmembramento de Campos Novos (1987, p. 371), omitindo qualquer referência às demais localidades. Não tivemos acesso à lei que criou o município, mas parece merecer crédito o trabalho de Roso e Seidel****, segundo o qual o decreto estadual que criou o município de Caçador diz: "Fica criado o município de Caçador e o território constituído dos distritos de: Santelmo, Taquara Verde e parte de São João dos Pobres, desmembrados de Porto União; Rio Caçador, de Curitibanos; Rio das Antas, de Campos Novos e São Bento, de Cruzeiro". A omissão de Cabral pode estar relacionada às origens do território que hoje constitui o município de Caçador, quando este passou à jurisdição catarinense em 1917, após a assinatura do acordo da questão de limites com o vizinho Paraná. Na ocasião a região era dividida, segundo o autor, pelos municípios de Campos Novos, como parte do distrito de Rio das Antas, e Porto União, à direita do Rio do Peixe (1987, p. 330). Ainda assim, Cabral não mencionou Porto União em sua obra. Eventualmente poderia lançar luz sobre o tema uma consulta minuciosa à questão dos limites territoriais das localidades mencionadas, anteriormente à criação do novo município, bem como a parcela com a qual cada município contribuiu para a criação do município de Caçador. Teria Campos Novos contribuído com uma parcela territorial maior do que os demais municípios? Se assim foi, é possível que Cabral tenha mencionado apenas o município que mais cedeu território à criação do Município de Caçador. Contudo, está é apenas uma hipótese e deixaremos esta questão para quem se dispuser a investigar o assunto com maior profundidade. Merece atenção, contudo, uma breve reflexão sobre as datas mencionadas no texto com referência à criação e instalação do município. Lê-se: "Era, então, no dia 25 de março de 1934 solenemente instalada a nova comuna, criada pelo decreto 597 de 26 de maio de 1934...". Estamos, obviamente, diante de um equívoco, pois a instalação de um minicípio se dá após a lei ou decreto que o cria, não antes. O município de Caçador teve, de fato, sua solenidade de instalação em 25 de março de 1934, mas sua criação se deu, não como o cita o texto, mas pelo Decreto/Lei No. 508 de 22 de fevereiro de 1934 (1987, p. 371). Como vemos, o pesquisador deve estar atento às fontes que consulta e, sempre que possível, confirmar as informações em outras fontes.
Fontes:
* www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=200&z=t&o=1&i=P
** www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=420300#
*** CABRAL, O. R. História de Santa Catarina. Florianópolis: Lunardelli, 1987.
**** www.cacador.net/portal/Paginas.aspx?cdPagina=16