terça-feira, 13 de julho de 2010

Joaçaba: "Você tem um Pozza? Que coincidência!"

Eles não costumam ser corriqueiros, ao menos para a maioria das pessoas, mas existem acontecimentos que nos deixam perplexos, geram sensações de grande prazer e euforia, nos deixam maravilhados. Refiro-me àquelas situações, raras e quase sempre inesquecíveis, que costumamos rotular como 'coincidências'. Recordo da indescritível sensação de supresa e prazer que me sobreveio ao descobrir, numa loja de móveis usados e antiguidades localizada à Rodovia Osvaldo Reis, que liga Itajaí a Balneário Camboriú, as lembranças da Confirmação* de meu avô e de minha avó paternos, datadas, respectivamente, de 1896 e 1903. Lá estavam, emolduradas, enfeitando as paredes da loja, juntamente com outros documentos antigos. Pode não parecer grande coisa à primeira vista, mas é. Afinal de contas, moro em Blumenau, mas meus avós residiram em Testo Alto, bairro localizado nos confins do município de Pomerode, e faleceram, ele em 1947, e ela em 1966. Não conheci meu avô e tinha apenas 04 anos de idade quando minha avó, a quem tinha visto pouquíssimas vezes, faleceu. O que faziam lá, mais de 100 km distantes de sua origem, documentos de foro tão íntimo, considerando que ninguém da família vive naquela região? E o que me levou a olhar para um daqueles quadros numa ocasião em que visitei a loja à procura de caixas de charuto antigas, que coleciono? Confesso que chamou minha atenção o nome Ottilie, da minha avó, mas nada me dizia o sobrenome Wachholz naquele quadro, e deixei o assunto de lado. Pelo lugar em que estava, não vi por que considerar a possibilidade de poder se tratar de algo relacionado à minha família. Retornei à loja alguns anos depois e, por algum motivo, fui novamente "atraído" para aquele quadro. Cético mas curioso, decidi anotar a data de nascimento da tal Ottilie Wachholz. De volta a Blumenau, conversei sobre o assunto com minha mãe. O resultado foi uma grande ansiedade para retornar à loja. Poucos meses depois lá estava eu, frente a frente com o quadro novamente, considerando seriamente a hipótese de ter pertencido à minha avó e disposto a retorná-lo ao seio da família. O mais incrível, contudo, ainda estava por vir. Algo me fez olhar para o lado, onde vi outro quadro, menos atraente, um tanto apagado e manchado pela ação da água, mas cujo nome, mesmo um pouco borrado, podia ser facilmente identificado: Hermann Lickfeld! 'Era o meu avô' e ele estava ali, 'ao lado da minha avó', todos esses anos, como que esperando que alguém 'os levasse para casa'. Foram necessárias várias idas à loja ao longo de alguns anos, sempre com outro objetivo, até que, finalmente, eu pudesse me dar conta disso. Mal posso descrever o que senti naquele dia. Foi como achar um tesouro. "Que grande coincidência!", alguém diria. Acredito em coincidências, mas, neste caso, confesso que prefiro crer, como diz um autor que me é desconhecido, que "coincidência é a forma que Deus tem de realizar anonimamente um milagre". Do ponto de vista lógico, qual a probabilidade daqueles quadros, originários do interior de Pomerode, estarem numa loja de móveis usados de Itajaí?  Sem dúvida, muito pequena. E qual a probabilidade de eu, sem procurá-los e nem ao menos saber de sua existência, encontrá-los lá? Convenhamos, é como se algo conspirasse para que isso acontecesse. O leitor se perguntará, e com razão, que relação há entre este relato e o acordeão acima. Fabiola Pozza Korndörfer, neta dos fundadores da fábrica de acordeões, que colaborou com minha pesquisa, lamentando o fato de nenhum acordeão Pozza ter ficado com a família, recentemente também vivenciou uma 'grande coincidência'. Conversando com seu novo colega de trabalho, Florindo Rio Neto, bioquímico como ela, ficou surpresa ao saber que este nascera em Joaçaba. Lá pelas tantas, quem ficou surpreso foi ele, ao saber que ela pertencia à família Pozza. O motivo? Justamente o acordeão da foto, que ele ganhou de presente do seu pai, Geraldo do Rio, por volta de 1973, quando tinha cerca de 08 anos de idade. Podemos especular que neste momento foram ditas  palavras como as que dão título a esta postagem. Seu pai comprou o instrumento novo, em Joaçaba, talvez na  própria fábrica ou em alguma loja, numa época em que a família residia em Videira. No entanto, mesmo com direito a professora particular de acordeão, Florindo sempre acabava fugindo das aulas para jogar futebol no 'campinho da rodoviária'. Algum tempo depois seu pai, vendo que o garoto não tinha dom para a coisa, deixou de insistir que ele aprendesse a tocar o instrumento e guardou-o em seu estojo original, onde ficaria por mais de três décadas, até fins de 2009. A família mudou para Cascavel e para lá também foi o acordeão. Passado algum tempo a mãe de Florindo faleceu e seu pai se casou novamente. No ano de 2006 viria a falecer também o seu pai. Aproximava-se o Natal de 2009. Na noite anterior à chegada de sua madrasta para passar o Natal com sua família, Florindo sonhou que viu a caixa do antigo acordeão embrulhada num saco, deixando visível apenas a alça. Ao chegar, ela lhe disse: "Tenho uma surpresa para você!". A resposta veio certeira: "Já sei o que é: o acordeão!" E assim foi.
Lá estava ele, como no sonho, e ainda em estado de novo, com o fole perfeito, agora para alegria de sua filha, Ana Clara. Ela se encantou pelo instrumento e, assim como seu pai, ganhou-o aos 08 anos de idade. Ana Clara já teve aulas de piano, mas avisou que agora quer ser gaiteira e já arrisca algumas melodias que aprendeu nas aulas de piano. Fabiola, por sua vez, teve a feliz oportunidade de conhecer a história de mais um Pozza fabricado por seus avós. E mais: como resultado das nossas postagens sobre o tema, outros proprietários de acordeões Pozza já nos procuraram, perguntando por peças de reposição e colocando seu instrumento à venda. Talvez Fabiola esteja, finalmente, perto de realizar o sonho de ser proprietária de um acordeão Pozza. É muita coincidência! Será?

* A Primeira Comunhão no contexto das igrejas evangélicas luteranas.

4 comentários:

  1. Wieland
    Bela história Wieland, falando de seus avós, e ou família.
    Que conto além de curioso, muito importante na formação da história da família. Quando a gente menos espera, lá está o imprevisto ou como queiramos acreditar, DEUS
    Coincidência ou não mas de alto valor e que nos faz repensar que vale a penas, pesquisas e contos maravilhosos que aqui você nos proporciona.
    Abraços
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história.

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  2. Eu lembro de vc contando esta história dos seus avós e concordo contigo: o universo conspira em alguns casos e certamente você mostra dois exemplos disso!!!
    Um beijão,

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  3. Lendo a historia entendi que os acontecimentos foram de uma grande profundidade espiritual.Eu senti neste momento uma grande emoção e me sinto momentaniamente parte desta historia é claro que não tenho nehum vinculo familiar mais por volta dos anos 80 mais preciso 1987 tive a felicidadde de adiquirir uma acordion da marca pozza. Isso foi na cidade de Foz do Iguaçu Pr. Hoje ela fica com meu pai que mora na cidade de Ivaiporã PR. o que conta paramim é que sempre fui curioso em saber se ainda existia a fabrica POZZA funcionando, mais infelismente se entendi o certo não existe mais.Só resta agora conservar e guardar muito bem. A POZZA virou reliquia.Fiquei muito feliz e me sinto realizado em conhecer esta história que para mim existia só faltava eu em uma coincidencia digitar no google o nome pozza com objetivo de comprar uma outra acordeon. Um grande abraço.

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  4. Boa noite,
    possuo um acordeon 80 baixos pozza para venda. Se alguém tiver interesse:
    flachtorno@hotmail.com

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