domingo, 24 de abril de 2016

Xanxerê e Ponte Serrada: Tornado - a cronologia de uma tragédia - III - 23 de abril de 2015

Em 23/04/2015 o Jornal de Santa Catarina dava continuidade à cobertura da tragédia que se abatera sobre Xanxerê e Ponte Serrada três dias antes. Começavam a ser calculados os prejuízos causados pelos tornados.


Soldados do Exército auxiliaram ontem na distribuição de alimentos, água, materiais de construção e utensílios aos atingidos pelo tornado em Xanxerê, depois da destruição que gerou prejuízo de R$ 45 milhões. Em Blumenau, doações devem ser direcionadas para os Bombeiros até as 7h, quando parte o Oeste um caminhão com as arrecadações - Fig 1.

R$ 45 MILHÕES PARA RECONSTRUIR A CIDADE
Xanxerê teve escolas, ginásios e centenas de casas destruídas após fenômeno de segunda-feira
Darci Debona - Xanxerê

     Nove prédios públicos, incluindo uma unidade de saúde e escolas, foram atingidos pelo tornado segunda-feira e ficaram fechados ontem em Xanxerê. A cidade vítima do fenômeno deve demorar meses para voltar à normalidade e desembolsar o valor de R$ 45 milhões para se reconstruir, conforme estimativa da Defesa Civil. Hoje, 11 escolas serão reabertas.
     Ontem, a chuva atrapalhou a reconstrução da cidade, mas os serviços básicos como água e energia começaram a ser restabelecidos. Dois ministros e o governador Raimundo Colombo, além de representantes de órgãos públicos, como a Defesa Civil, que coordena uma força-tarefa com mais de 400 pessoas, estiveram no município.

LIMPEZA Moradores e soldados do Exército Brasileiro passaram o dia de ontem recolhendo entulhos e móveis que foram parar nas ruas de Xanxerê - Fig. 2

MIL TRABALHAM NA RECONSTRUÇÃO

     O prefeito de Xanxerê, Ademir Gasparini, estima que cerca de mil pessoas estejam trabalhando, somando voluntários e servidores públicos municipais.
     Máquinas da prefeitura começaram a retirar os entulhos, liberando as ruas. Doações chegaram de diversos municípios e começaram a ser distribuídas com o auxílio do exército, bombeiros, Polícia Militar e assistentes sociais do município.
     - Neste momento, nossa prioridade é atender às necessidades básicas, como água, comida e higiene pessoal - afirmou o major Walter Parizotto, comandante dos Bombeiros de Xanxerê.
     Para agilizar o socorro às vítimas, o Governo Federal garantiu que vai reconhecer o estado de calamidade pública e situação de emergência dos municípios, respectivamente. A decisão deve ser publicada no Diário Oficial da União hoje.

RECEITA MÉDICA VOA 40 QUILÔMETROS
Angela Bastos

     O tornado que destruiu parte de Xanxerê atravessou os limites da cidade. Na página do Facebook de Lindóia do Sul, município vizinho a 40 quilômetros em linha reta, moradores postam imagens dos objetos que foram encontrados em suas propriedades. São notas fiscais e pedaços de madeira, isopor, amianto, entre outros materiais. Uma receita médica encontrada no canavial do agricultor Valter Canton ganhou destaque. O papel tem assinatura do médico e timbre da Secretaria de Saúde de Xanxerê, com data de 9 de abril.
     - A gente deixou secar e conseguiu ler - conta a mulher do agricultor, Salete Bertol Canton.
     O tempo que o papel pode ter alcançado para atingir a lavoura impressiona o casal:
     - De carro e pela estrada, a gente leva uma hora e meia para chegar em Xanxerê. Não sabemos quando chegou, mas a localizamos na manhã de terça-feira - explica o agricultor.
     O rastro do tornado foi deixado em pelo menos oito comunidades de Lindóia do Sul. As marcas atingiram terras em Linha Joana, Sertãozinho, Santo Isidoro, Linha Alegre, Acídio e Cotovelo. Na localidade de Mimosa foi encontrada uma placa de "vende-se" com um telefone de Xanxerê. Na linha Acordi, notas de uma empresa também de Xanxerê.
     A cada hora que passa chega informação de que alguma coisa foi encontrada - explica o prefeito de Lindóia do Sul, Pedro Ari Parizotto.

Entrevista / Milton Hobus, Secretário de Defesa Civil do Estado

"NÃO TEMOS UMA COBERTURA SUFICIENTE DE RADARES"

Milton Hobus - Secretário de Defesa Civil do Estado - Fig. 3

     Quanto a equipamentos, o Estado tem o suficiente para fazer o monitoramento de todo o território do Estado?
     Milton Hobus - Não, não temos. Estamos no início do trabalho. Primeiro, não temos todas as informações centralizadas e tratadas. Não temos uma cobertura suficiente de radares e nem conhecimento para saber tratar todas essas informações. É algo que vai acontecer passo a passo. O importante é que existe planejamento e cada mês colhemos mais resultados.

     Então ainda falta estrutura para o Estado? Tanto de equipamento e de pessoas?
     Hobus - Mesmo sem uma estrutura adequada a Defesa Civil emitiu para a região do Oeste um alerta de fortes temporais na segunda-feira. Só que não temos nem conhecimento e capacidade para avaliar uma informação como a que recebemos do Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), cujas imagens estão disponíveis para Santa Catarina. Ainda não temos capacitação dos meteorologistas para tratar essas informações. E tudo isso é um aprendizado.

     Que tipo de equipamentos são esses?
     Hobus - Um radar como o de Lontras a ser instalado no Oeste de Santa Catarina, que é promessa do Governo Federal e que iniciará a varredura desde o Rio Grande do Sul. A previsão que o Governo Federal passou é para o final deste ano. Mas o governador já determinou que, se não ocorrer a ajuda, o Estado vai fazer porque não podemos mais esperar. Outro radar menor, com outras características, deve ser instalado no Sul. Além desses radares, outros R$ 25 milhões devem ser investidos em equipamentos no Centro de Monitoramento de Alertas e equipamentos de campos para levantar mais informações.

     Já tem lugar determinado para esses radares?
     Hobus - O estudo técnico definitivo da cidade e lugar específico não está pronto, mas deve ser em Chapecó.

     Qual o prazo para eles entrarem em operação?
     Hobus - A ideia é que tudo esteja funcionando com o Centro de Monitoramento de Alertas, em junho de 2016.

     Como o senhor avalia a ação da Defesa Civil em Xanxerê?
     Hobus - A Defesa Civil se estruturou há um bom tempo para poder estar presente e dar resposta rápida. Tanto que na noite de segunda-feira já estávamos presentes na região. Demos assistência necessária, porque nessa as pessoas não sabem o que fazer. O nosso trabalho foi forte e continuará presente para a fazer a organização do trabalho.

     O que é Centro de Monitoramento e como ele poderá ajudar nessas situações?
     Hobus - Dentro do projeto do Centro de Monitoramento de Alertas está a disponibilização de informações e ação pela internet e via celulares para que as pessoas tenham acesso a todos os alertas no território de SC. Com essas ações, esperamos criar uma consciência acostumada com essas situações e capaz de agir com antecedência.

     Onte ficará o centro de monitoramento?
     Hobus - Na Defesa Civil, em Florianópolis, e ficará pronto em um ano. Daqui ele vai integrar todas as informações do Estado, para interpretar e disponibilizar essa informação apurada.


AJUDA DE BLUMENAU PARTE HOJE DE MANHÃ
Água e lonas ainda podem ser deixados até as 7h no Corpo de Bombeiros do Centro ou na Base Norte

     A doação para as vítimas de Xanxerê, no Oeste de Santa Catarina, segue até hoje de manhã em Blumenau. Água e lonas estão entre os principais itens arrecadados, mas a população também doou alimentos não perecíveis, produtos de higiene e limpeza, roupas, cobertores e edredons. A previsão era de que o primeiro caminhão com os itens doados saísse de Blumenau ontem à noite, mas por causa de uma indefinição sobre qual veículo faria o transporte o prazo foi estendido até as 7h de hoje.
     - Estamos de serviço 24 horas por dia, não tem por que não receber as doações durante a noite e manhã - explica o sargento Valério Pereira.
     Os donativos estão sendo recebidos tanto no Batalhão dos Bombeiros da Rua Sete de Setembro, Centro, próximo ao Terminal da Proeb, quanto na Base Norte, localizada na Rua Ari Barroso, no Salto do Norte.

AJUDA Ontem à noite bombeiros organizavam as doações de Blumenau - Fig. 4

Fonte: Jornal de Santa Catarina - Notícias - Tornado em SC / Dias para recomeçar - 23/04/2015 - p. 18-20
Imagens: Sirli Freitas - Especial (Fig. 1 e Fig. 2) + Rafaela Martins - B.D., 23/8/2013 (Fig. 3) + Patrick Rodrigues (Fig. 4)

AJUDA NECESSÁRIA

     É grande a angústia dos atingidos pelos tornados que se formaram no Oeste do Estado. A situação em nada se parece ao que passamos quando o rio transborda e a água invade nossas casas. Aqui elas serão lavadas e tudo segue como antes. Lá, elas foram destruídas sem aviso. E não só elas. Também os móveis, utensílios, roupas e memórias. Neste momento de dor inimaginável, vale toda e qualquer ajuda. As orientações estão na reportagem sobre o fenômeno desta edição.

Fonte: Jornal de Santa Catarina - Coluna do Pancho, o jornalista Francisco Fresard - 23/04/2015 - p. 3

Devastação causada pelo tornado em Xanxerê - Fig. 5

XANXERÊ: OS INCENTIVOS À RECONSTRUÇÃO

     A devastadora ação do tornado que atingiu a cidade de Xanxerê vai aos poucos mostrando, pelas reportagens dos jornais e televisão, as cenas dramáticas sobre a violência e a extensão da trágica ocorrência. E, lentamente, a população começa a gigantesca tarefa da reconstrução de suas casas e da cidade parcialmente destruída.
     No meio de tanta tristeza, a elogiável resposta de incontáveis instituições no atendimento emergencial às vítimas. Houve um despertar geral no Estado, com prefeituras e as principais associações corporativas - OAB, AMC, ACMP, CRC, etc. - convocando seus associados a uma nova rede de solidariedade.
     Na mesma direção, a pronta resposta das autoridades, outro fato positivo. Da presidente aos ministros, do governador aos secretários, do prefeito aos diretores, todos decidindo com agilidade e assinando atos que amenizam o sofrimento de milhares de famílias.
     Este esforço de solidariedade precisa continuar. Só quem passa por este drama consegue avaliar o que significa perder tudo. E não se trata apenas das perdas materiais. Afinal, o lar é o que abriga a história de vida das famílias e de seu patrimônio sentimental e cultural. Toda ajuda material e psicológica é vital agora e durante um bom tempo, Atender as emergências e elevar o astral para manter a esperança da reconstrução é o maior desafio deste momento.

Fonte: Jornal de Santa Catarina - Coluna de Moacir Pereira - 23/04/2015 - p. 6
Imagem: Sirli Freitas - Especial (Fig. 5)

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