Nach dem Wanderstab zu greifen,
Und, den Blumenstrauss am Hute,
Gottes Garten zu durchschweifen..."
"Como é bom, durante a primavera
Lançar mão do bastão de caminhada,
E, com flores o chapéu a ornamentar
Pelo Jardim de Deus poder vaguear..." *
Com este verso o autor de Dreizehnlinden - Treze Tílias em português - dá início ao poema de 25 cantos que compõe a obra que o projetou como poeta. Alemão, Friedrich Wilhelm Weber nasceu em 25/12/1813 em Alhausen e faleceu em 05/04/1894 em Nieheim. Filho de guarda florestal, quando estudante fez uma longa caminhada percorrendo a Boêmia**, a Áustria, a Itália e a França. Uma vez médico, viveu em diversos lugares da Westfália, região onde nasceu. De 1861 a 1893, foi membro da câmara de deputados da Prússia.
Seu trabalho mais conhecido, o poema épico Dreizehnlinden, que trata dos conflitos gerados pela cristianização da Saxônia, foi publicado em 1878 (imagem acima). Paz e tolerância são os temas principais que emergem de seus escritos. Um dos maiores best-sellers do final do século XIX e início do século XX, Dreizehnlinden pertencia ao acervo natural de livros da família alemã. A obra que até o início da ditadura de Hitler fazia parte do currículo escolar, lamentavelmente caiu no esquecimento. No entanto, o épico de Weber carrega uma mensagem que jamais deixou de ser atual: a da vitória do amor sobre a violência.
Os eventos que compõe a história em Dreizehnlinden ocorrem na região de Nethegau, Westfália, nos anos de 822 e 823, no período de regência de Luís I o Piedoso, também conhecido como Luís I o Belo, segundo filho do imperador Carlos Magno, rei dos francos*** de 814 a 840. No âmago da obra está a história de amor do jovem saxão Elmar, crescido e educado na fé pagã e no ódio aos invasores francos, e a jovem cristã Hildegunde, filha de um conde franco.
Com isso no aproximamos do tema central da história. A paz está no centro do ensinamento cristão, e somente poderá haver uma nova primavera para a humanidade onde reinar paz e tolerância. No entanto, as lembranças do conflito que deixou marcas profundas na vida dos conquistadores francos e dos subjugados saxões ainda estão longe de ser esquecidas. No campo privado, o conflito se reflete nas dificuldades do amor de Hildegunde e Elmar, que vê crescer dentro de si dúvidas quanto à ideologia guerreira de Odin, o deus da mitologia germânica em cuja crença fora educado. Ele parece enxergar, no horizonte dos acontecimentos, que o tempo dos deuses saxões está chegando ao fim. No entanto, os próprios francos, dada a violência com que subjugaram os saxões, impondo-lhes a fé cristã, pouco parecem estar dispostos a espalhar o espírito cristão. Neste meio aparece a vidente Swanahild, apontando para a contradição existente entre a ação guerreira dos invasores e a mensagem de paz cristã que supostamente deveriam propagar.
Dreizehnlinden, o mosteiro, aparece então como o verdadeiro contraponto cristão àquele tempo carente de paz. O conflito franco-saxão cresce quando Gero, mensageiro real franco, acusa injustamente Elmar de incendiário. Gero, que deseja conquistar Hildegunde para si, fere gravemente a Elmar com uma flecha envenenada. Elmar encontra, então, suplicando por sua vida, mais parecido com um Jó sofredor do que com um herói épico, abrigo no mosteiro Dreizehnlinden. Desta forma, conflito e negociação de conflito se transformam em catástrofe. O pérfido, caluniador e falso cristão Gero é inicialmente vitorioso sobre o inocente Elmar, que, como já dito, têm dúvidas quanto à fé pagã na qual fora educado. O verdadeiro cerne da epopéia está na estada de Elmar no mosteiro. Longe do ódio e da violência, e sob a proteção do abade e do prior, em Dreizehnlinden ele é curado de corpo, alma e espírito. À vidente Swanahild é permitido cuidar da cura do corpo, mas aos monges cristãos é dada a exclusividade na cura do espírito e da alma. Desta forma, em Dreizehnlinden se unem a vidente e os monges, numa demonstração de tolerância, para uma obra de vivência prática do amor cristão. Chega a primavera e Elmar renuncia, convencido pela bênção da não-violência, à fé guerreira em Odin e se deixa batizar. O amor entre ele e Hildegunde se completa logo depois, durante o período da colheita. A epopéia da paz de Weber atinge seu auge nesta união. Chama a atenção que o titulo da epopéia não aponta, como é comum, para o herói, mas para o centro da renovação do espírito e da alma.
A legião de fãs de Weber pode ter desaparecido com o tempo, mas a memória de sua principal obra e de seus valiosos ensinamentos é mantida viva por iniciativa do Ministro Andreas Thaler (1883-1939). O austríaco que liderou os imigrantes de seu país em terras catarinenses e a quem devemos o surgimento da bela cidade de Treze Tílias em 13/10/1933, buscou no poema de Weber inspiração para dar nome à nova Pátria de seus conterrâneos e seus descendentes brasileiros. Parabéns, amigos e ex-alunos trezetilienses, pela comemoração dos 77 anos da chegada dos pioneiros austríacos! Termino com o verso final de Dreizehnlinden:
Aus dem Erdenelend finden.
Betet für den armen Schreiber,
Schließt der Sang von Dreizehnlinden!"
"O caminho da Pátria ajude-nos Deus
Em meio à miséria terrena encontrar.
Rezem pelo pobre escritor,
Termina o canto de Treze Tílias!" *
* Tradução livre do autor.
** Parte oeste do território da atual República Tcheca.
*** Habitantes da Francônia, região do sudeste da Alemanha.
Fontes:
http://www.projekt.gutenberg.de/
http://www.friedrich-wilhelm-weber-gesellschaft.de/