quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Treze Tílias: "Dreizehnlinden": o poema épico que empresta o nome à cidade

"Wonnig ist's, in Frühlingstagen,
Nach dem Wanderstab zu greifen,
Und, den Blumenstrauss am Hute,
Gottes Garten zu durchschweifen..."

"Como é bom, durante a primavera
Lançar mão do bastão de caminhada,
E, com flores o chapéu a ornamentar
Pelo Jardim de Deus poder vaguear..." *
Com este verso o autor de Dreizehnlinden - Treze Tílias em português - dá início ao poema de 25 cantos que compõe a obra que o projetou como poeta. Alemão, Friedrich Wilhelm Weber nasceu em 25/12/1813 em Alhausen e faleceu em 05/04/1894 em Nieheim. Filho de guarda florestal, quando estudante fez uma longa caminhada percorrendo a Boêmia**, a Áustria, a Itália e a França. Uma vez médico, viveu em diversos lugares da Westfália, região onde nasceu. De 1861 a 1893, foi membro da câmara de deputados da Prússia.

Seu trabalho mais conhecido, o poema épico Dreizehnlinden, que trata dos conflitos gerados pela cristianização da Saxônia, foi publicado em 1878 (imagem acima). Paz e tolerância são os temas principais que emergem de seus escritos. Um dos maiores best-sellers do final do século XIX e início do século XX, Dreizehnlinden pertencia ao acervo natural de livros da família alemã. A obra que até o início da ditadura de Hitler fazia parte do currículo escolar, lamentavelmente caiu no esquecimento. No entanto, o épico de Weber carrega uma mensagem que jamais deixou de ser atual: a da vitória do amor sobre a violência.

Os eventos que compõe a história em Dreizehnlinden ocorrem na região de Nethegau, Westfália, nos anos de 822 e 823, no período de regência de Luís I o Piedoso, também conhecido como Luís I o Belo, segundo filho do imperador Carlos Magno, rei dos francos*** de 814 a 840. No âmago da obra está a história de amor do jovem saxão Elmar, crescido e educado na fé pagã e no ódio aos invasores francos, e a jovem cristã Hildegunde, filha de um conde franco.

Com isso no aproximamos do tema central da história. A paz está no centro do ensinamento cristão, e somente poderá haver uma nova primavera para a humanidade onde reinar paz e tolerância. No entanto, as lembranças do conflito que deixou marcas profundas na vida dos conquistadores francos e dos subjugados saxões ainda estão longe de ser esquecidas. No campo privado, o conflito se reflete nas dificuldades do amor de Hildegunde e Elmar, que vê crescer dentro de si dúvidas quanto à ideologia guerreira de Odin, o deus da mitologia germânica em cuja crença fora educado. Ele parece enxergar, no horizonte dos acontecimentos, que o tempo dos deuses saxões está chegando ao fim. No entanto, os próprios francos, dada a violência com que subjugaram os saxões, impondo-lhes a fé cristã, pouco parecem estar dispostos a espalhar o espírito cristão. Neste meio aparece a vidente Swanahild, apontando para a contradição existente entre a ação guerreira dos invasores e a mensagem de paz cristã que supostamente deveriam propagar.


Dreizehnlinden, o mosteiro, aparece então como o verdadeiro contraponto cristão àquele tempo carente de paz. O conflito franco-saxão cresce quando Gero, mensageiro real franco, acusa injustamente Elmar de incendiário. Gero, que deseja conquistar Hildegunde para si, fere gravemente a Elmar com uma flecha envenenada. Elmar encontra, então, suplicando por sua vida, mais parecido com um Jó sofredor do que com um herói épico, abrigo no mosteiro Dreizehnlinden. Desta forma, conflito e negociação de conflito se transformam em catástrofe. O pérfido, caluniador e falso cristão Gero é inicialmente vitorioso sobre o inocente Elmar, que, como já dito, têm dúvidas quanto à fé pagã na qual fora educado. O verdadeiro cerne da epopéia está na estada de Elmar no mosteiro. Longe do ódio e da violência, e sob a proteção do abade e do prior, em Dreizehnlinden ele é curado de corpo, alma e espírito. À vidente Swanahild é permitido cuidar da cura do corpo, mas aos monges cristãos é dada a exclusividade na cura do espírito e da alma. Desta forma, em Dreizehnlinden se unem a vidente e os monges, numa demonstração de tolerância, para uma obra de vivência prática do amor cristão. Chega a primavera e Elmar renuncia, convencido pela bênção da não-violência, à fé guerreira em Odin e se deixa batizar. O amor entre ele e Hildegunde se completa logo depois, durante o período da colheita. A epopéia da paz de Weber atinge seu auge nesta união. Chama a atenção que o titulo da epopéia não aponta, como é comum, para o herói, mas para o centro da renovação do espírito e da alma.

A legião de fãs de Weber pode ter desaparecido com o tempo, mas a memória de sua principal obra e de seus valiosos ensinamentos é mantida viva por iniciativa do Ministro Andreas Thaler (1883-1939). O austríaco que liderou os imigrantes de seu país em terras catarinenses e a quem devemos o surgimento da bela cidade de Treze Tílias em 13/10/1933, buscou no poema de Weber inspiração para dar nome à nova Pátria de seus conterrâneos e seus descendentes brasileiros. Parabéns, amigos e ex-alunos trezetilienses, pela comemoração dos 77 anos da chegada dos pioneiros austríacos! Termino com o verso final de Dreizehnlinden:

"Helf' uns Gott den Weg zur Heimat

Aus dem Erdenelend finden.
Betet für den armen Schreiber,
Schließt der Sang von Dreizehnlinden!"

"O caminho da Pátria ajude-nos Deus
Em meio à miséria terrena encontrar.
Rezem pelo pobre escritor,
Termina o canto de Treze Tílias!" *

















* Tradução livre do autor.
** Parte oeste do território da atual República Tcheca.
*** Habitantes da Francônia, região do sudeste da Alemanha.

Fontes:
http://www.projekt.gutenberg.de/
http://www.friedrich-wilhelm-weber-gesellschaft.de/

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Caçador: um breve reflexão sobre suas origens.

Encontrei a folha que ilustra esta postagem solta, entre as páginas de um livro que pertenceu a Wilhelm Herwig, avô materno de Anke Cristina, minha mulher. Curiosamente, ele a guardou por conta do conteúdo do verso da folha, não da frente em questão. Quase 20 anos depois de sua morte, sem o saber, contribui com o nosso blog. O texto, cuja fonte lamentavelmente não nos foi possível recuperar, traz informações sobre o município de Caçador, que na época de sua publicação totalizava 40900 habitantes. Não é fornecida a data à qual a estatística se refere, mas, segundo dados obtidos do IBGE*, em 1980 Caçador contava aproximadamente 39300 habitantes. Este dado nos permite situar a estatística nos primeiros anos da década de 1980, entre 25 e 30 anos atrás. Segundo o texto, com o qual concorda o histórico do município do site do IBGE**, ao ser criado o Município de Caçador, seu território foi desmembrado dos municípios de Porto União, Curitibanos, Campos Novos e Cruzeiro, tendo este último tido, posteriormente, seu nome alterado para Joaçaba. O reconhecido historiador Oswaldo Rodrigues Cabral (1903-1978), em sua obra História de Santa Catarina***, cita apenas o desmembramento de Campos Novos (1987, p. 371), omitindo qualquer referência às demais localidades. Não tivemos acesso à lei que criou o município, mas parece merecer crédito o trabalho de Roso e Seidel****, segundo o qual o decreto estadual que criou o município de Caçador diz: "Fica criado o município de Caçador e o território constituído dos distritos de: Santelmo, Taquara Verde e parte de São João dos Pobres, desmembrados de Porto União; Rio Caçador, de Curitibanos; Rio das Antas, de Campos Novos e São Bento, de Cruzeiro". A omissão de Cabral pode estar relacionada às origens do território que hoje constitui o município de Caçador, quando este passou à jurisdição catarinense em 1917, após a assinatura do acordo da questão de limites com o vizinho Paraná. Na ocasião a região era dividida, segundo o autor, pelos municípios de Campos Novos, como parte do distrito de Rio das Antas, e Porto União, à direita do Rio do Peixe (1987, p. 330). Ainda assim, Cabral não mencionou Porto União em sua obra. Eventualmente poderia lançar luz sobre o tema uma consulta minuciosa à questão dos limites territoriais das localidades mencionadas, anteriormente à criação do novo município, bem como a parcela com a qual cada município contribuiu para a criação do município de Caçador. Teria Campos Novos contribuído com uma parcela territorial maior do que os demais municípios? Se assim foi, é possível que Cabral tenha mencionado apenas o município que mais cedeu território à criação do Município de Caçador. Contudo, está é apenas uma hipótese e deixaremos esta questão para quem se dispuser a investigar o assunto com maior profundidade. Merece atenção, contudo, uma breve reflexão sobre as datas mencionadas no texto com referência à criação e instalação do município. Lê-se: "Era, então, no dia 25 de março de 1934 solenemente instalada a nova comuna, criada pelo decreto 597 de 26 de maio de 1934...". Estamos, obviamente, diante de um equívoco, pois a instalação de um minicípio se dá após a lei ou decreto que o cria, não antes. O município de Caçador teve, de fato, sua solenidade de instalação em 25 de março de 1934, mas sua criação se deu, não como o cita o texto, mas pelo Decreto/Lei No. 508 de 22 de fevereiro de 1934 (1987, p. 371). Como vemos, o pesquisador deve estar atento às fontes que consulta e, sempre que possível, confirmar as informações em outras fontes.

Fontes:
* www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=200&z=t&o=1&i=P
** www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=420300#
*** CABRAL, O. R. História de Santa Catarina. Florianópolis: Lunardelli, 1987.
**** www.cacador.net/portal/Paginas.aspx?cdPagina=16

terça-feira, 13 de julho de 2010

Joaçaba: "Você tem um Pozza? Que coincidência!"

Eles não costumam ser corriqueiros, ao menos para a maioria das pessoas, mas existem acontecimentos que nos deixam perplexos, geram sensações de grande prazer e euforia, nos deixam maravilhados. Refiro-me àquelas situações, raras e quase sempre inesquecíveis, que costumamos rotular como 'coincidências'. Recordo da indescritível sensação de supresa e prazer que me sobreveio ao descobrir, numa loja de móveis usados e antiguidades localizada à Rodovia Osvaldo Reis, que liga Itajaí a Balneário Camboriú, as lembranças da Confirmação* de meu avô e de minha avó paternos, datadas, respectivamente, de 1896 e 1903. Lá estavam, emolduradas, enfeitando as paredes da loja, juntamente com outros documentos antigos. Pode não parecer grande coisa à primeira vista, mas é. Afinal de contas, moro em Blumenau, mas meus avós residiram em Testo Alto, bairro localizado nos confins do município de Pomerode, e faleceram, ele em 1947, e ela em 1966. Não conheci meu avô e tinha apenas 04 anos de idade quando minha avó, a quem tinha visto pouquíssimas vezes, faleceu. O que faziam lá, mais de 100 km distantes de sua origem, documentos de foro tão íntimo, considerando que ninguém da família vive naquela região? E o que me levou a olhar para um daqueles quadros numa ocasião em que visitei a loja à procura de caixas de charuto antigas, que coleciono? Confesso que chamou minha atenção o nome Ottilie, da minha avó, mas nada me dizia o sobrenome Wachholz naquele quadro, e deixei o assunto de lado. Pelo lugar em que estava, não vi por que considerar a possibilidade de poder se tratar de algo relacionado à minha família. Retornei à loja alguns anos depois e, por algum motivo, fui novamente "atraído" para aquele quadro. Cético mas curioso, decidi anotar a data de nascimento da tal Ottilie Wachholz. De volta a Blumenau, conversei sobre o assunto com minha mãe. O resultado foi uma grande ansiedade para retornar à loja. Poucos meses depois lá estava eu, frente a frente com o quadro novamente, considerando seriamente a hipótese de ter pertencido à minha avó e disposto a retorná-lo ao seio da família. O mais incrível, contudo, ainda estava por vir. Algo me fez olhar para o lado, onde vi outro quadro, menos atraente, um tanto apagado e manchado pela ação da água, mas cujo nome, mesmo um pouco borrado, podia ser facilmente identificado: Hermann Lickfeld! 'Era o meu avô' e ele estava ali, 'ao lado da minha avó', todos esses anos, como que esperando que alguém 'os levasse para casa'. Foram necessárias várias idas à loja ao longo de alguns anos, sempre com outro objetivo, até que, finalmente, eu pudesse me dar conta disso. Mal posso descrever o que senti naquele dia. Foi como achar um tesouro. "Que grande coincidência!", alguém diria. Acredito em coincidências, mas, neste caso, confesso que prefiro crer, como diz um autor que me é desconhecido, que "coincidência é a forma que Deus tem de realizar anonimamente um milagre". Do ponto de vista lógico, qual a probabilidade daqueles quadros, originários do interior de Pomerode, estarem numa loja de móveis usados de Itajaí?  Sem dúvida, muito pequena. E qual a probabilidade de eu, sem procurá-los e nem ao menos saber de sua existência, encontrá-los lá? Convenhamos, é como se algo conspirasse para que isso acontecesse. O leitor se perguntará, e com razão, que relação há entre este relato e o acordeão acima. Fabiola Pozza Korndörfer, neta dos fundadores da fábrica de acordeões, que colaborou com minha pesquisa, lamentando o fato de nenhum acordeão Pozza ter ficado com a família, recentemente também vivenciou uma 'grande coincidência'. Conversando com seu novo colega de trabalho, Florindo Rio Neto, bioquímico como ela, ficou surpresa ao saber que este nascera em Joaçaba. Lá pelas tantas, quem ficou surpreso foi ele, ao saber que ela pertencia à família Pozza. O motivo? Justamente o acordeão da foto, que ele ganhou de presente do seu pai, Geraldo do Rio, por volta de 1973, quando tinha cerca de 08 anos de idade. Podemos especular que neste momento foram ditas  palavras como as que dão título a esta postagem. Seu pai comprou o instrumento novo, em Joaçaba, talvez na  própria fábrica ou em alguma loja, numa época em que a família residia em Videira. No entanto, mesmo com direito a professora particular de acordeão, Florindo sempre acabava fugindo das aulas para jogar futebol no 'campinho da rodoviária'. Algum tempo depois seu pai, vendo que o garoto não tinha dom para a coisa, deixou de insistir que ele aprendesse a tocar o instrumento e guardou-o em seu estojo original, onde ficaria por mais de três décadas, até fins de 2009. A família mudou para Cascavel e para lá também foi o acordeão. Passado algum tempo a mãe de Florindo faleceu e seu pai se casou novamente. No ano de 2006 viria a falecer também o seu pai. Aproximava-se o Natal de 2009. Na noite anterior à chegada de sua madrasta para passar o Natal com sua família, Florindo sonhou que viu a caixa do antigo acordeão embrulhada num saco, deixando visível apenas a alça. Ao chegar, ela lhe disse: "Tenho uma surpresa para você!". A resposta veio certeira: "Já sei o que é: o acordeão!" E assim foi.
Lá estava ele, como no sonho, e ainda em estado de novo, com o fole perfeito, agora para alegria de sua filha, Ana Clara. Ela se encantou pelo instrumento e, assim como seu pai, ganhou-o aos 08 anos de idade. Ana Clara já teve aulas de piano, mas avisou que agora quer ser gaiteira e já arrisca algumas melodias que aprendeu nas aulas de piano. Fabiola, por sua vez, teve a feliz oportunidade de conhecer a história de mais um Pozza fabricado por seus avós. E mais: como resultado das nossas postagens sobre o tema, outros proprietários de acordeões Pozza já nos procuraram, perguntando por peças de reposição e colocando seu instrumento à venda. Talvez Fabiola esteja, finalmente, perto de realizar o sonho de ser proprietária de um acordeão Pozza. É muita coincidência! Será?

* A Primeira Comunhão no contexto das igrejas evangélicas luteranas.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Xanxerê: O "Coração de Xanxerê" há quase 50 anos


"Mecê não pense que aqui tudo é mato", adverte a frase no verso da fotografia acima, garimpada num site de colecionismo. Datando de novembro de 1961, mostra o "Coração de Xanxerê", a Rua Coronel Passos Maia, no momento em que esta passava por importante processo de urbanização. Hoje a paisagem é outra. O calçamento deu lugar à pavimentação asfáltica e muitas das construções foram demolidas para dar lugar a outras. Apesar disso, hoje há mais "mato" do que naqueles tempos, com a arborização do passeio do lado esquerdo da rua. Acompanhar a evolução da paisagem urbana contribui para a preservação da memória das cidades e é este o propósito desta postagem. Iniciamos com o lado esquerdo da imagem, que em primeiro plano mostra uma construção de madeira com a inscrição "Casa Herrmann". Consta ter pertencido a um empreendimento de beneficiamento de madeira ou moveleiro. Ao lado desta aparece uma árvore, aparentemente plantada em terreno ainda baldio. Estes espaços atualmente são ocupados pelas novas edificações que abrigam a "Farmácia São Rafael" (No. 802) e a loja "Papelândia Brinquedos e Confecções" (No. 788). Imediatamente antes destas, no mesmo prédio da "Farmácia São Rafael", existe ainda a loja "Maxi Bazar de Utilidades" (No. 810), junto à esquina com a Rua Avenida Brasil", omitida pela fotografia. Em seguida aparece um pequeno edifício térreo em cuja tabuleta se lê "Fotógrafo - Musskopf". Trata-se do negócio do autor da fotografia, Alfredo G. Musskopf. Neste lugar hoje existe o prédio da loja "Essência Cosméticos e Salão de Beleza" (No. 780). Mais adiante aparece a edificação da antiga "Casa Paulista", demolida para dar lugar ao edifício onde atualmente encontramos a loja do ramo de decoração "Kazo A Kazo" (No. 768). A próxima construção, com uma sacada no piso superior, resistiu ao tempo e abriga a "Farmácia Santo Antônio" (No. 759) e a loja "Akakia Cosméticos" (No. 756). Entre esta e a próxima construção, que igualmente ainda existe, há um espaço aparentemente vazio, onde existiu, com recuo em relação à calçada, a filial de uma loja de tecidos de São Paulo, a "Casas Eduardo". Atualmente existe ali o prédio no qual estão localizadas as empresas "Panda Confecções" (No. 740) e "Cyber Space - Internet" (No. 730). Em seguida aparece o edificío mais alto, também ainda existente, no qual encontramos a loja "Bimbo Fios e Artesanato" (No. 726). Logo depois pode-se identificar uma pequana placa oval com a inscrição "Esso", que remete ao posto de gasolina que existiu ali, ocupando a esquina das ruas Coronel Passos Maia e Olavo Bilac. A antiga construção que abrigou o posto também ainda existe. Na parte que dá para a Coronel Passos Maia hoje encontramos a loja "Bazar das Festas" (No. 712), e na que dá para a Olavo Bilac está a sorveteria e lanchonete "Bistrô" (No. 49). Uma pracinha ocupa o lugar na frente do antigo posto, que já pertenceu a um chafariz. O prédio que se vê ao fundo também ainda existe. Conhecido como "Prédio da Volks", abriga a concessionária da Volkswagen "Auto Xanxerê" (No. 56 da Rua José Miranda Ramos). Passemos para o lado direito da rua: a primeira construção, de cor escura, já não existe. Atualmente está ali um novo edifício, que abriga a "Relojoaria e Ótica Confiança" (No. 735). No espaço existente entre esta e a próxima edificação visível estão o "Clube Cultural e Recreativo Xanxerê" e o "Restaurante O Costelão" (No. 713). O próximo prédio, de cor clara, abrigava as "Lojas Renner". Foi demolido para dar lugar ao moderno edifício da família Bortoluzzi no qual estão instalados o "SESC - Serviço Social do Comércio" e o "Cantinho do Sorvete" (No. 691). Na continuação, cruzando a Avenida La Salle, hoje temos diversos estabelecimentos comerciais: "América Móveis", "Wustro e Wustro - Produtos de Limpeza", "Cheia de Charme", "Farmácia Preço Popular", "Anjo Móveis", "Magazine Luiza", etc. A fotografia eterniza o olhar do fotógrafo, permitindo que este compartilhe o que viu com gerações que sequer o conheceram. Contribui, assim, com a preservação da memória do lugar e do momento histórico registrados por seu autor. Preserve e dê voz às imagens do passado da sua família e da sua cidade. Elas têm muito a dizer à atual e às futuras gerações. Agradeço aos moradores de Xanxerê que gentilmente me receberam durante a pesquisa, e de forma especial à Márcia, da Prefeitura Municipal de Xanxerê, que me apoiou "preparando o terreno" para as entrevistas.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Joaçaba: "Descobri um 'Pozza' em Blumenau!"

Há alguns dias, após postar a matéria sobre a antiga fábrica de acordeões Pozza, uma neta dos fundadores da fábrica me fez saber do interesse da família em adquirir um acordeão produzido pela fábrica. Estou tentando ajudar, divulgando o assunto a um grande círculo de amigos e conhecidos, pois posso imaginar os sentimentos envolvidos nisso no contexto da história da família Pozza. Contudo, percebi que esse sentimento pode não dizer respeito somente aos descendentes de quem fabricou, mas também aos de quem adquiriu um acordeão Pozza. Isso que demonstra que um bem produzido pode significar muito mais do que um mero produto exposto numa vitrine. É o caso do acordeão Pozza que descobri em minha cidade na semana passada. Liguei para um conhecido que é professor de acordeão e tem uma loja de venda de instrumentos musicais, inclusive acordeões, tanto novos quanto usados. Perguntei se porventura tinha um Pozza à venda, ao que respondeu negativamente, mas informou que em 2009 teve um aluno que, segundo se recorda, poderia ter um Pozza. Sua lista de ex-alunos revelou um nome: Romualdo Jardini. Um telefonema bastou para confirmar a informação, mas também para revelar que o tal Pozza não está à venda. Pena para a família Pozza (apenas por enquanto, pois havemos de encontrar um Pozza à venda!), mas o proprietário do acordeão, sensível aos anseios da família, gentilmente permitiu que eu fotografasse o instrumento e conhecesse um pouco da sua história.


O instrumento tem grande valor sentimental para Romualdo Jardini. Seus antepassados, assim como os Pozza da antiga fábrica, eram italianos que vieram do Rio Grande do Sul para contribuir com o desenvolvimento do Meio Oeste catarinense. O acordeão foi comprado em 1962 por seu avô, Santo Giardini*, agricultor falecido em 2007, e um dos primeiros moradores da localidade de São José, interior do município de Catanduvas. Era um presente para o seu filho, Vitalino Jardini, pai de Romualdo, que na ocasião completara 18 anos de idade. A vida no interior era muito dura e a música era um elemento que trazia alegria à vida dos agricultores nos finais de semana, nos raros momentos de relaxamento e descontração que estes se permitiam. Quando solteiro, Vitalino tocava acordeão e violão, juntamente com seu irmão Valdir, animando bailes e festas num galpão de chão batido que existiu em São José. Depois de casar e constituir família, em função da dura vida na lavoura e das novas responsabilidades, Vitalino já não podia se dedicar à música como o fazia nos tempos de solteiro e aos poucos foi deixando-a de lado. A certa altura, presenteou o acordeão ao seu filho Romualdo, que também conheceu as dificuldades da vida no interior e se mudou para o Vale do Itajaí em busca de uma oportunidade de crescimento profissional. Entretanto, não esquece suas raízes e procura seguir os passos do pai, inspirados por seu avô, e também aprender a tocar acordeão. Compreende-se, portanto, o sentimento que Romualdo acalenta em relação ao seu Pozza, não querendo se desfazer dele. Trata-se de algo intangível, espiritual, e ao mesmo tempo muito forte e real na vida da parte envolvida. Diz Romualdo: "Essa gaita tem história. Imagina quantas pessoas não tocaram e aprenderam a tocar nela nestes anos todos?" Não temos a resposta a essa pergunta, Romualdo, mas esperamos que você possa seguir honrando a história deste Pozza e que, algum dia, seus descendentes possam ser os próximos a fazer parte dela.


*Giardini é a grafia original do sobrenome da família. Devido a um erro ocorrido no registro do nascimento de Vitalino, pai de Romualdo, que teve o sobrenome registrado como sendo Jardini ao invés de Giardini, este ramo da família passou a se chamar Jardini.  

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Joaçaba: "Fabrica de Armonicas - de Irmãos Pozza"

Muitos moradores de Joaçaba e região hão de se recordar desta empresa que existiu em Joaçaba por um período de quase 50 anos: a "Fabrica de Armonicas - de Irmãos Pozza". A empresa foi fundada pelos irmãos José João, Atílio Afonso e Cesar Pozza, já falecidos. Eram filhos de Angelo Pozza, ourives de profissão, e imigrante italiano que se fixou na cidade de Nova Prata/RS. No início da década de 1930 a família, a exemplo de muitas outras de descendentes de italianos, alemães, poloneses, e de outras nacionalidades, deixou o Rio Grande do Sul para contribuir com o processo de colonização do meio oeste catarinense. Angelo e seus filhos José João, Atílio Afonso e Cesar, foram os primeiros a vir, tendo sido seguidos pela esposa de Angelo e os demais filhos do casal. Estabelecem-se inicialmente em Capinzal, mas passado pouco tempo, fixaram residência em Joaçaba. José João Pozza, decidido a montar uma fábrica de acordeões, viajou a São Paulo a fim de aprender as técnicas de montagem e afinação dos intrumentos. Surgiu assim, há 80 anos, o empreendimento que, a partir do talento e das mãos hábeis de muitos instrumentistas, certamente contribuiu para alegrar incontáveis bailes, casamentos, festas, reuniões de famílias e amigos, e outros eventos nos quais a alegria da música se fez presente. A fábrica produzia, para comercialização em nível local, regional e estadual, cerca de 360 instrumentos por ano, uma média de 30 unidades mensais, até encerrar suas atividades, em 1978, pouco depois da morte, em 1977, de José João Pozza. Uma breve referência ao empreendimento pode ser encontrada na internet, em sites como http://www.acordeom.com.br/ e http://www.lojamanomonteiro.com.br/, nos quais figura, no contexto da história do acordeão, em listas de fábricas que produziram o instrumento no Brasil. E por falar na internet, foi num site de venda de artigos para colecionadores que encontramos a imagem que ilustra esta postagem: http://www.rsscolecionismo.nom.br/. Trata-se de um catálogo atribuído à década de 1950, que informa que a empresa tinha como endereço a Rua Duque da Caxias s/n. Entretanto, consta que neste endereço funcionava a oficina de conserto e afinação de acordeões, já desativada, dirigida por Pedro Antônio Pozza, filho de José João Pozza. A fábrica estava, de fato, localizada à Rua Floriano Peixoto No. 12, esquina com Frei Edgar, e funcionava no andar térreo do prédio, local que atualmente abriga uma loja de comércio de móveis. O piso superior do edifício, como fora no passado, é destinado a fins residenciais. A música parecia estar no sangue da família Pozza. Lourdes Pozza, irmã dos fundadores da empresa, tocava acordeão e ensinava a arte aos seus alunos no piso superior do prédio onde funcionava a fábrica, local onde também residia. Deixo meus agradecimentos aos descendentes da família Pozza que gentilmente colaboraram com esta postagem. Funiculi, Funiculá!

Fontes:
KORNDÖRFER, Fabíola. Pozza. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por wieland@terra.com.br  em 31 mai. e 07 e 08 jun. 2010.

POZZA, Juliano. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por wieland@terra.com.br em 04 abr. 2010.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Treze Tílias em 1972

Já navegou em sites especializados em colecionismo? Se não, sugiro que o faça, ainda que não colecione nada, que seja apenas para passar o tempo ou matar a curiosidade. Afirmo que será uma experiência interessantíssima, pois lhe trará muita informação e prazer, e ainda ampliará seu conhecimento geral. Além disso, permitirá que encontre verdadeiras "relíquias" de tempos passados, como costuma acontecer comigo. Este ano, em 13/10, o Tirol Brasileiro comemorará 77 anos da chegada dos primeiros imigrantes austríacos e, neste 29/04, 47 anos de emancipação política. Em 1972, de quando datam as imagens que ilustram este texto, a cidade festejava, com a segunda edição de uma feira, seus 09 anos de existência como município. À época da chegada dos primeiros imigrantes austríacos, em 1933, o território onde se encontra o município pertencia a Joaçaba, então denominada Cruzeiro do Sul. Em 24/05/1955, por ocasião da 225a. Sessão da Câmara de Vereadores de Joaçaba, foi aprovada a denominação de Treze Tílias para o então Distrito de Papuan. A emancipação política viria em 29/04/1963, pela Lei No. 882, com o desmembramento de Ibicaré, a cujo território pertencia desde a criação daquele município em 1962.
Nada seriam as cidades sem os seus protagonistas maiores, os cidadãos, seus filhos. A primeira imagem mostra, ao centro, a Sra. Cecília Moser, Miss Turismo de Treze Tílias. Conhecida por "Tante Cilly" no âmbito familiar, é irmã da Sra. Hilda Moser Klotz, esposa do Sr. João Klotz, proprietário do Hotel Tirol. No canto superior esquerdo aparece o "Castelo", hoje mais conhecido por "Castelinho". Foi construído em 1936 e inaugurado no ano seguinte pelo fundador da cidade, o Ministro Andreas Thaler, a fim de servir-lhe de residência. Desde outubro de 2002 abriga o Museu Municipal Andreas Thaler. Ainda em cima, no lado direito, temos o Hotel Stern, inaugurado naquele ano, concepção original do que viria ser o Hotel Tirol. Embaixo, à esquerda, aparece o Hotel Áustria, que teria sido o primeiro empreendimento hoteleiro de Treze Tílias, ladeado por vias públicas ainda não pavimentadas. Por fim, no canto inferior direito, a então chamada "Piscina Turística", empreendimento ainda recente do Sr. Erwin Felder, já falecido, e de sua esposa, a Sra. Elfriede, que segue firme à frente do conhecido Restaurante e Camping Felder.


A segunda imagem nos proporciona uma bela vista panorâmica de Treze Tílias em 1972. Já na época a paisagem era marcada pela imponência da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (1952) na parte alta da cidade e sua então já bem cuidada praça, hoje denominada Praça Ministro Andreas Thaler. O belo edifício da prefeitura municipal parecia ainda não existir, ao menos como o conhecemos hoje. Igualmente o Hotel Tirol, na bela construção que o abriga em nossos dias, ainda viria a fazer parte da paisagem urbana da cidade. A beleza pela qual a cidade é conhecida hoje, contudo, tem sua vocação claramente impressa na imagem. Não por acaso é internacionalmente conhecida como o "Tirol Brasileiro". Parabéns, a todos os trezetilienses, pelo 47o. aniversário de emancipação política de sua bela cidade!

Fontes:
CABRAL, O. R. História de Santa Catarina. 3a. ed. Florianópolis: Lunardelli, 1987.
CALZA, S. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por: wieland@terra.com.br.  
Acesso em: 01 fev. 2010.
Site www.cmj.sc.gov.br/docs/r02.pdf

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Treze Tílias: As memórias de Alfred Luiz Baumgarten - Parte II



 Dando sequencia ao relato das viagens de Alfred Luiz Baumgarten a Treze Tílias, reproduzo abaixo o texto referente à sua segunda viagem ao município. Segundo havia inicialmente planejado, esta deveria ter acontecido no ano seguinte à primeira viagem, ou seja, em 1979, mas veremos que seu retorno a Treze Tílias demoraria um pouco mais. A imagem retrata parcialmente o Hotel Tirol, onde se hospedou nas duas ocasiões. Infelizmente, em função da baixa qualidade da imagem publicada no livro, não é possível identificar as pessoas na fotografia. No entanto, o estabelecimento ainda existe, obviamente modernizado e ampliado, e se mantém fiel às características que cativaram o viajante Baumgarten. Tive o privilégio, enquanto membro do corpo docente do Curso de Turismo e Administração Hoteleira da UNOESC, de conhecer e participar da qualificação de alguns de seus colaboradores, entre eles Solange Calza e os irmãos Cristina Klotz Mantovani e Roberto Klotz, filhos dos proprietários do hotel. Vamos à parte final do texto:

"Não foi no ano seguinte, mas dois anos depois, que voltamos a Treze Tílias na época sugerida. Desta vez fizeram parte do grupo: o sr. Oswaldo Huewes e esposa Marilene, Grete, Luiz, Marilia e eu. Na viagem de ida conhecemos as cidades de São Bento do Sul e Rio Negrinho, que neste dia estava festejando seu primeiro centenário de fundação. Em Treze Tílias fomos diretamente ao Hotel Tirol, onde já estávamos sendo esperados. Sábado e domingo* foram os dias dos festejos, com exposição Agro-Pecuária e Artesanato, de churrasco e música tirolesa o dia inteiro, sem falar do baile de sábado à noite. Fui convidado a abrir o baile dançando com a Miss Treze Tílias. Entre as danças houve apresentação de vários grupos de Danças tirolesas em trajes típicos, inclusive o "Schuhplattler". É uma dança no qual os pares participantes pulam e batem com as palmas das mãos nos joelhos e na sola dos sapatos.

Para domingo à noite, Da. Mitzi tinha preparado uma festa particular para nós e sua família, animada com muita cantoria, em alemão é claro, e muito vinho. Um casal de alemães de São Paulo, assistiu as nossas brincadeiras com tanto interesse que acabamos chamando-o para nosso grupo. O comentário do senhor alemão foi que desde que veio de Hamburgo nunca mais tinha ouvido esses "Lieder"** e principalmente as paródias dos textos que eu cantava. Se sacudia de tanto rir.

Tínhamos marcado a nossa viagem de regresso para a manhã do dia seguinte. Isso provocou um protesto geral nos nossos amigos do Hotel Tirol. Da. Mitzi até já tinha preparado um assado para o almoço. Não tivemos outra alternativa e tivemos que adiar a viagem para depois do almoço. Quando anunciamos a nossa decisão a alegria foi geral e na mesma hora o genro de Da. Mitzi saiu apressadamente para comprar mais vinho."

* Pelos nossos cálculos, 26 e 27/04/1980.
** Canções, provavelmente folclóricas.

Até aqui o relato de Baumgarten. Seria muito interessante saber quem são algumas das pessoas mencionadas ao longo do texto, como a Da. Mitzi, suas filhas e seu genro, assim como a Miss Treze Tílias daquele ano e a freira mencionada na primeira parte desta matéria. Contribuições neste sentido são muito benvindas e podem ser postadas na forma de comentários ou enviadas por e-mail para wieland@terra.com.br.

Fonte: BAUMGARTEN, A. L. Missão cumprida. Blumenau: Ed. do autor, 1992.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Treze Tílias: As memórias de Alfred Luiz Baumgarten - Parte I


Há alguns anos, em visita a um sebo de Blumenau encontrei um livreto de 89 páginas, escrito por Alfred Luiz Baumgarten (1912-2001), e intitulado "Missão Cumprida". Curioso por encontrar na auto-biografia dados que remetessem ao passado de Blumenau/SC, grata surpresa encontrei, à p. 75, o título "Treze Tílias". O autor relata suas duas passagens pelo município. Ainda que tenha omitido a data destas viagens, permito-me, a partir de um dado fornecido pelo autor, supor que tenham ocorrido em 1978 e 1980, respectivamente. A suposição se baseia na informação de autor de que sua segunda viagem aconteceu quando Rio Negrinho/SC "estava festejando seu primeiro centenário" (p. 77), e é sabido que isso aconteceu a 24/04/1980, uma quinta-feira.
As informações referentes à história e a outros fatos do município são resultado de impressões coletadas pelo autor em suas visitas à cidade e eventualmente algumas delas podem carecer de confirmação.
Estou certo que o leitor terá muito prazer nestes relatos, especialmente o que estiver familiarizado com os locais e fatos mencionados, ou mesmo os protagonizou. O relato da segunda viagem publicaremos em breve.


Treze Tílias

Estivemos duas vezes nessa encantadora cidadezinha do interior catarinense. A cidade foi fundada em 1933 por um grupo de tiroleses, chefiados pelo ex-ministro da Agricultura da Áustria, Andreas Thaler. Depois de peregrinar por vários países sulamericanos, acabaram no Brasil, onde encontraram o lugar dos seus sonhos para se assentarem e fundar uma cidade. Assim, nasceu Treze Tílias (em alemão "Dreizehn Linden").
Em Treze Tílias tudo se desenvolve com a preocupação de preservar as tradições tirolesas. Graças aos incentivos da prefeitura, que entre outros isentou de impostos durante 5 anos a construção de casas típicas. Nem mesmo as agências do Banco do Brasil e do Banco de Desenvolvimento de Santa Catarina escaparam. Elas estão instaladas em prédios com estilo tirolês.
A primeira viagem fizemos no carro do sr. Oswaldo Hueves, nosso representante* para o Estado de Santa Catarina. Do grupo participaram, além do sr. Oswaldo, minha irmã Grete e seu marido Luiz, o sr. Werner Riedmann, da Fábrica em Nova Friburgo, Marília** e eu. Chegamos à cidade já noite escura sem saber onde ficar. Vimos no alto de uma colina uma igrejinha iluminada. Fomos até lá e, como a porta estava aberta, resolvemos entrar. Na igreja meu cunhado Luiz encontrou uma religiosa que conheceu há muitos anos quando lhe forneceu remédios, sendo ele farmacêutico. A freira nos apresentou ao Padre João, tirolês e pároco da igreja. A nosso pedido indicou-nos um hotel e se ofereceu para nos acompanhar ao Hotel Tirol da Da. Mitzi. Era um hotel típico da região, familiar e muito simpático, administrado por Da. Mitzi, suas duas filhas e um genro. Éramos praticamente os únicos hóspedes e, apesar da hora avançada, nos prepararam um gostoso lanche (Abendbrot), acompanhado de vinho da região. Depois ainda fomos brindados com um concerto de cítara por Da. Mitzi, acompanhado por um coral formado pelas filhas e genro e do qual nós acabamos participando.
O dia seguinte foi de passeios pela cidade e visitas a vários artesanatos, a maioria de esculturas em madeira, principalmente de figuras sacras. O pessoal do hotel e outras pessoas com as quais conversamos, nos aconselharam a voltar no ano seguinte, em maio***, para os festejos da fundação da cidade. Com essa idéia na cabeça, regressamos a Armação.

* Representante da Fábrica de Rendas ARP, de Nova Friburgo/RJ.
** A esposa de Alfred Luiz Baumgarten, que vive no RJ.
*** A data de chegada dos primeiros imigrantes austríacos é comemorada em 13/10. O texto parece se referir aos festejos da emancipação do município, ocorrida em 29/04/1963.

Fontes:
BAUMGARTEN, A. L. Missão cumprida. Blumenau: Ed. do autor, 1992.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Joaçaba no "Almanaque do Vale"


No final de fevereiro tive uma supresa agradável: vi uma referência a Joaçaba estampada no "Almanaque do Vale", publicado diariamente na penúltima página do Jornal de Santa Catarina, aqui em Blumenau. A coluna é composta de diversas seções: "Há 30 anos no Santa", que retrata notícia publicada no passado, informações sobre os santos do dia e a respeito de eventos ocorridos naquele dia ao longo da história, frases que levam à reflexão, às vezes alguma anedota ou poesia que prestigia autores locais, e também a reproduzida acima, na qual é permitido ao leitor enviar uma fotografia do passado, como o fez a Sra. Fabiele Giovanella no dia 25 de fevereiro último, o do cinquentenário da morte do Frei Bruno. Nascido em 08 de setembro de 1876 em Düsseldorf, Alemanha, Humberto Linden, filho de Humberto Linden e Cecília Goelden, ainda jovem ingressou no noviciado dos Franciscanos da Saxônia em Harreveld, Holanda. Tomou o hábito em 13/03/1894. Tendo sido destinado à missão no Brasil, chegou à Bahia em 12/07 do mesmo ano. Terminou o noviciado em Salvador e fez a profissão solene a 15/05/1898. Estudou Filosofia e Teologia e foi ordenado sacerdote em Petrópolis em 10/05/1901. Em 1904 veio para Santa Catarina, onde serviu à igreja e aos irmãos em Gaspar e São José. Em 1917 foi transferido para Não-Me-Toque/RS. De volta a SC, passa os anos de 1926 até meados da década de 1940 em Rodeio. De lá é transferido para outro local, para em seguida se estabelecer em Xaxim, onde permaneceu até 1956. Chegou a Joaçaba em idade avançada, aos 80 anos, já fraco e doente. Foi a Luzerna com o objetivo de repousar e se preparar para a morte, mas decide retornar a Joaçaba, onde trabalhou até quase o fim dos seus dias. Em 03/07/1959 rezou sua última missa e em 25/10 do mesmo ano vai pela última vez a Luzerna, ainda em cumprimento à sua missão. Pouco menos de um mês mais tarde, em 20/11, foi encontrado desacordado. Recebeu atendimento médico e se recuperou, mas a 25/02/1960 se despediu da comunidade que hoje lhe tem por santo e se dedica à sua canonização. Desde 1987, sempre no último domingo de fevereiro, milhares de pessoas participam da romaria em sua homenagem. Em 30/11/2006 é encerrada a montagem do Monumento Frei Bruno, obra iniciada em janeiro de 2004. O monumento, com 37 m de altura, consta ser o terceiro mais alto do mundo, ficando atrás apenas do Cristo Redentor, no RJ, e da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque, EUA, com 40 e 57 m de altura, respectivamente.

Fontes: http://www.freibruno.com.br/ e Jornal de Santa Catarina, Almanaque do Vale, 25/02/2010, p. 23.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Oeste de Santa Catarina no "Almanak-Laemmert"

Iniciamos nossas postagens com informações sobre a primeira fonte da qual lançaremos mão neste espaço: o Almanak* Laemmert. Publicado no Rio de Janeiro entre 1844 e 1889 pelos irmãos Eduard e Heinrich Laemmert, oriundos do então Grão-ducado de Baden, situado no sudoeste da Alemanha, é a mais antiga publicação do gênero no Brasil. Os irmãos Laemmert foram os pioneiros do mercado livreiro e tipográfico brasileiro e são os fundadores da Livraria Universal e da Tipografia Laemmert. Posteriormente, já proclamada a República, o almanaque passa à propriedade de Manoel José da Silva. O famoso almanaque é considerado instrumento indispensável de consulta para conhecimento do passado comercial, financeiro e social brasileiro do Século XIX e início do Século XX. Adquirimos esta raridade, um exemplar de 1918, numa livraria especializada em livros antigos de Curitiba/PR. A capa desta edição permite identificar a força do transporte ferroviário há quase 100 anos, em boa parte responsável pelo surgimento de diversos municípios da região meio-oeste e oeste de SC. "O Estado está cortado pela Estrada de Ferro S. Paulo-Rio Grande e pela de S. Francisco ao Iguassú, que, partindo de S. Francisco, estende-se pelo interior, em direcção á fronteira Argentina", informa o Almanak (p. 4174). O episódio que ficou conhecido como "Guerra do Contestado" e a questão de limites entre os Estados de Santa Catarina e Paraná, resolvida com a assinatura de um acordo em 1916, também fazem parte deste contexto. Sobre este último diz o Almanak: "Em virtude do accordo firmado em 20 de Outubro de 1916 entre os Presidentes dos Estados do Paraná e Santa Catharina, sanccionado pelas respectivas Assembleias Estadoaes, os limites entre os referidos Estados passaram a ser os seguintes: (...) No interior: o Rio Negro desde suas cabeceiras até sua foz no Rio Iguassú e por este até a ponte da Estrada de Ferro S. Paulo-Rio Grande; pelos eixos d'esta ponte e da mesma Estrada de Ferro até sua intercepção com o eixo da estrada de rodagem que actualmente liga a cidade de Porto União da Victoria á cidade de Palmas; pelo eixo da referida estrada de rodagem até seu encontro com o Rio Jangada; por este acima até suas cabeceiras e d'ahi em linha recta na direcção do meridiano até sua interpecção com a linha divisoria das aguas dos rios Iguassú e Uruguay e por esta linha divisoria das ditas aguas na direcção geral do oéste, até encontra a linha que liga ás cabeceiras dos rios Santo Antonio e Pepiriguassú, na fronteira Argentina" (loc. cit.). Os textos foram transcritos em seu formato original. A pujança da estrada de ferro há muito se foi, resultado de uma clara opção do Brasil pelo transporte rodoviário. Discussões referentes à retomada do transporte ferroviário como forma de integração do oeste com o litoral catarinense, especialmente com vistas ao escoamento de produtos para os portos visando sua colocação no mercado internacional, fazem parte da pauta do Governo Estadual há alguns anos. Enquando as coisas não saem do papel, permanece viva na lembrança de muitos a lembrança dos tempos em que os trens cortavam a região com regularidade. Para a satisfação de saudosistas e deleite de moradores e turistas, iniciativas como o passeio de Maria Fumaça promovido pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) entre os municípios de Piratuba/SC e Marcelino Ramos/RS, e o debate a respeito de outras em municípios localizados ao longo do leito da estrada de ferro, como Tangará, Pinheiro Preto, Videira e Herval d'Oeste, ajudam a dar vida à memória deste importante fator de desenvolvimento da região no passado e podem ser importantes para o desenvolvimento da atividade turística no presente.

* A capa da edição de 1918 utiliza a grafia "Almanack". Contudo, tanto outras edições quanto inúmeras páginas da edição de 1918 se referem à publicação com a grafia original "Almanak", utilizada desde o surgimento da publicação em 1844.

Fontes: Ministério da Cultura (www.cultura.gov.br) e Almanak Laemmert, edição de 1918.