domingo, 23 de novembro de 2014

Vargem Bonita: berço da Celulose Irani S.A.

Esta é nossa primeira postagem sobre o município de Vargem Bonita e será dedicada ao surgimento da Celulose Irani S.A., importante empresa do segmento de papel e celulose originária do meio oeste catarinense.


Primeiro prédio construído com tijolos da olaria da empresa - 1944

     A Celulose Irani S.A. é um case de sucesso do mundo corporativo. Surgiu da crise de uma vinícola de Caxias do Sul/RS, a Companhia Vinícola Riograndense que, apesar de capitalizada, viu, no difícil período dos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, diminuir o mercado de vinhos finos.
     O início do conflito na Europa afetou diretamente as importações brasileiras de papel e pasta de celulose, pois causou grande instabilidade no movimento da marinha mercante. Esta crise para a indústria brasileira foi encarada como oportunidade pelos diretores da vinícola, que decidiram investir em outro mercado, o de papel e celulose.
     Visando realizar um estudo de viabilidade econômica, os diretores Galeazzo Paganelli e José Moraes Vellinho enviaram um emissário em busca de pinheirais nos estados de Santa Catarina e Paraná: Alfredo Fedrizzi, homem de confiança que em 11 anos dedicados à vinícola, demonstrara sua competência na defesa dos interesses da empresa. Tinha início a história de sucesso da Celulose Irani S.A.
     A expedição, comandada por Alfredo Fedrizzi e acompanhado de Paulo Pasquali e dos técnicos em araucária João Turra e Emílio Tedesco, partiu numa madrugada de inverno de 1940 rumo ao Oeste de Santa Catarina e posteriormente ao Paraná, com a missão de reconhecer duas fazendas oferecidas à vinícola para construir sua fábrica de papel.
     O local escolhido foi a fazenda São João do Irani, localizada no município catarinense de Cruzeiro do Sul, posteriormente denominado Joaçaba. As dificuldades iniciais foram enormes, pois não havia estradas para chegar ao local, distante 25 km de Vargem Bonita, núcleo habitado mais próximo.
     No início de 1941 Alfredo Fedrizzi seguiu para Campina da Anta, como se chamava a localidade onde estava a fazenda, para ali erguer o primeiro rancho de madeira lascada a machado, às margens do Rio da Anta. Teria sido ele a rebatizar o local com o nome de Campina da Alegria, utilizado até hoje. Em seguida iniciou, com a utilização de pás, picaretas e carrinho de mão, a construção de uma estrada de 25 km de extensão e dois metros de largura em plena mata, exaustiva obra que lhe custou 10 meses de trabalho.
     A empresa foi oficialmente fundada em 06 de junho de 1941, com o nome de Celulose Irani Ltda., tendo como seu administrador o pioneiro Alfredo Fedrizzi.
     Em 1942 foi iniciada a construção do primeiro prédio, com a utilização de tijolos e telhas fornecidos pela olaria. A serraria da empresa abastecia a obra com as madeiras necessárias à sua execução. No mesmo ano foram instalados os primeiros equipamentos industriais: um britador com acionamento hidráulico, as primeiras caldeiras e a primeira máquina a vapor, de 375 HP, para geração de energia.
     No ano seguinte, 1943, foi instalado o primeiro desfibrador a vapor para fabricação de pasta mecânica. Em fins do mesmo ano e início do seguinte, foi montada ao lado das caldeiras outra máquina a vapor. Usada em navios, além de fornecer energia para a fábrica, fazia funcionar dois geradores que mais tarde acionaram a primeira máquina de papel.
     
Primeira máquina de papel - 1946

     O ano de 1944 marcou o início da produção de papel com a utilização da Máquina de Papel Numero I, inaugurada pelo então Governador do Estado de Santa Catarina, Nereu Ramos. Dificuldades com a importação de máquinas dos EUA levaram a alterações no projeto original e compra de equipamentos em São Paulo. Assim, a fábrica iniciou suas atividades sem a produção de celulose, utilizando papéis velhos e pasta mecânica.
     Em 1945 Alfredo Fedrizzi iniciou a construção de uma represa e de uma usina de geração de energia no Salto Flor do Mato, em Campina da Alegria. A obra foi concluída alguns anos mais tarde. A energia elétrica era gerada por uma termoelétrica própria, acionada a lenha, que produzia vapor para abastecer a indústria.
     Os papéis eram cortados em diversos formatos, depois escolhidos e contados em resmas, para em seguida ser embalados e prensados na forma de fardos de aproximadamente 150 kg. Da fábrica eram transportados até Cruzeiro do Sul, onde a empresa mantinha um depósito às margens da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande. Deste depósito partia de trem para ser distribuído para os centros consumidores do país.
     Em 1948 a fábrica deixou de produzir papel com celulose importada para, a partir de 1949, com a contratação do primeiro técnico e especialista na fabricação de celulose e ácido, Max Erold, passar a produzir sua própria celulose.
     A partir de década de 1950 a empresa não parou mais de crescer e se consolidou em seu ramo de atuação. Neste período passou a utilizar parte de suas reservas florestais, mas desde o início preocupada com o reflorestamento. Em 1958 instalou seu escritório em Vargem Bonita. 
     Na década de 1960 teve início a utilização de mudas de Pinus elliottii, originárias dos EUA. Uma forte nevasca, em 1965, formou uma camada de 20 cm de gelo em torno da fábrica.

Neve no patio de madeiras de Campina da Alegria - 1965

      A década de 1970 marcou o fim das atividades do pioneiro Alfredo Fedrizzi à frente da empresa em Campina da Alegria, após 31 anos dedicados ao exitoso empreendimento. Fortemente homenageado por toda a comunidade e funcionários, fixou residência em Caxias do Sul/RS, onde viviam filhos e netos.
     Um novo impulso na empresa aconteceu na década de 1990 quando, em 1994, seu controle acionário foi assumido pelo Grupo Habitasul de Participações S.A. Hoje, com 73 anos de existência, a Celulose Irani S.A. é uma empresa reconhecida nacional e internacionalmente. Para conhecer mais da história ilustrada da empresa, navegue pela cronologia disponível em www.irani.com.br/pt/info/historia?ano=1940.

Fonte e imagens: www.irani.com.br

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