segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Chapecó: O custo do transporte público - jan 2018


     Os catarinenses começaram 2018 desembolsando mais dinheiro para andar de ônibus municipais. Neste início de ano, quatro das sete capitais regionais do Estado aumentaram o preço das passagens entre 3,8% e 9,21%, percentual acima da inflação dos últimos 12 meses, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 2,70%. A maioria das cidades havia reajustado a tarifa no mesmo período de 2017.
     O bilhete mais salgado continua sendo o de Joinville, que desde 2 de janeiro, após reajuste de 7,26%, custa R$ 4,30 - o comprado dentro do ônibus está R$ 4,65. Já em Chapecó, onde a passagem não aumenta desde novembro de 2016, a viagem sai por R$ 2,98.
     O prefeito da cidade do Oeste, Luciano Buligon, explica que há muitos anos a tarifa está entre as mais baixas do Estado. Ele entende que o valor pode estar relacionado ao custo de vida mais baixo, mas afirma que o preço deva ser reajustado em breve.
     A Procuradoria do município já recebeu um pedido do sindicato das empresas concessionárias para aumentar, mas argumenta que isso deve ser feito com o novo processo licitatório, publicado até fevereiro. Buligon admite que o serviço precisa de adaptações e inovação.
     Em Joinville, a prefeitura não quis se manifestar sobre o assunto. Diz apenas, em nota, que o "reajuste segue o cumprimento de decisão judicial, que tem como base o valor técnico de tarifação, baseado nos custos do serviço de transporte coletivo urbano". A cidade também não oferece meia-passagem para estudantes, como a Capital.
     Entre os reajustes aplicados entre dezembro de 2017 e início deste ano, o mais significativo foi o de Lages, de 9,21%, fazendo a tarifa subir para R$ 3,64. Por nota, a prefeitura explica que a primeira proposta da empresa Transul era de 24,55% de aumento, o que levaria a uma passagem de R$ 4,18. Além disso, o município demorou mais do que os outros para fazer o reajuste. O último foi em maio de 2016.
     No texto, o prefeito Antonio Ceron explica que considerou "o percentual solicitado excessivo" e, depois de uma análise da equipe técnica da prefeitura, optou pelos 9,21%. Aumento do preço do diesel, das peças e dos próprios ônibus, assim como dos salários, estão relacionados ao acréscimo, justifica a prefeitura.
     O presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha, afirma que o diesel é um dos principais componentes relacionados ao custo do transporte. No caso da tarifa de ônibus, corresponde a cerca de 23% do custo. Para ele, a alta do combustível - acima da gasolina e da inflação - é uma das justificativas para os reajustes, que costumam acontecer em boa parte das cidades brasileiras entre janeiro e maio. Cunha afirma que o aumento tem ficado entre 3% e 8% na maioria das cidades.


     Além do aumento do preço do diesel e de salários de funcionários, as empresas concessionárias justificam a nova tarifa devido à queda do volume de passageiros. Em Joinville, por exemplo, segundo as empresas concessionárias, houve uma redução de mais de 5% no número de usuários de 2016 para o ano passado.
     Atualmente, o serviço transporta o equivalente a 60% do que transportava há 20 anos. Já em Lages, a queda foi de 4,88%, e em Florianópolis, de 3,57%. Porém, segundo o Consórcio Fênix, a expectativa na Capital é que com o uso de câmeras de videomonitoramento, GPS e o Florianoponto, aplicativo de informação em tempo real, a demanda volte a crescer.


     O coordenador do Observatório de Mobilidade Urbana da Universidade Federal de Santa Catarina, Werner Kraus Júnior, explica que a queda de usuários do transporte coletivo acontece em todo o mundo desde o início dos anos 2000.
     Segundo o especialista, os dois primeiros fatores relacionados a esse cenário são o aumento do tempo de viagens dos ônibus e, em paralelo, a maior possibilidade de aquisição de veículos pela população. Otávio Cunha, presidente executivo da NTU, acrescenta que atualmente um ônibus trafega em média a 12 km/h, antes era 25 km/h.
     - A combinação de tarifas e tempo de viagem subindo colocou as pessoas em automóveis e piorou ainda mais os tempos de viagens. É um ciclo vicioso que só consegue se romper com faixas exclusivas para ônibus - diz.
     Ele acrescenta que a sociedade não investe em transporte público e tem uma mentalidade muito voltada para o individual. Cunha defende ainda que o desemprego também influencia na queda do volume de usuários.

Fonte: Jornal de Santa Catarina - Mobilidade - 11/01/2018 - p. 10
Texto: Karine Wenzel - karine.wenzel@somosnsc.com.br

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